Pepita de Souza Afiune

REAPROPRIAÇÕES DO EGITO ANTIGO NO Vale do Amanhecer EM PLANALTINA (DF)


Neiva Chaves Zelaya, conhecida como Tia Neiva, era uma mulher batalhadora, ficou viúva e cuidou de seus quatro filhos, se dedicando à profissão de caminhoneira. A partir dos seus 33 anos de idade demonstrou habilidades para lidar com fenômenos paranormais, com uma percepção extra-sensorial, encontrando no espiritismo o alento para suas inquietações. Convenceu muitas pessoas sobre suas habilidades mediúnicas e sobre ter vindo ao mundo como a reencarnação de Cleópatra. Acreditava-se também que ela podia ver espíritos, seres de outras dimensões e prever o futuro. Começou a atender pacientes em uma região próxima a Alexânia (GO) e fundou a Ordem Espiritualista Cristã em Taguatinga, até que no ano de 1969 fundou o Vale do Amanhecer em Planaltina (GO). Tia Neiva também relatava ter contatos com seres de um planeta chamado Capela. Capela seria um planeta de outra dimensão e seus espíritos encarnam e desencarnam na Terra. A médium também relatava viagens em naves espaciais. Realizei uma entrevista com um membro da comunidade que sintetizou a respeito da doutrina:

 

“O Vale do amanhecer é uma doutrina não tirada de nenhum seguimento, religião, seitas ou livros filosóficos. Tem o seu sistema próprio e uma doutrina cristã, porém ligado a ciência. Nossa tônica é a técnica de manipulação de energia. Tudo aconteceu através de mantras, gestos e rituais. É um processo de técnica doutrinário. Tudo trazido dos planos espirituais através da clarividente que nós chamamos carinhosamente de Tia Neiva. Ela através de sua clarividência, recebia as orientações de pai Seta Branca ou de seus enviados e transportando para o plano físico, através das técnicas de transporte e desdobramentos, técnica estas na qual foi preparada pela espiritualidade maior. Ela tinha o poder de ir em outro plano seja luz ou ‘inluz’ conversar com espíritos voltava ao corpo com mesma clareza” [Entrevista com J.S., 2019].

 

No dia 16 de novembro de 1985 Tia Neiva faleceu deixando uma organização bem estruturada funcionando normalmente sem a necessidade de sua presença. O Vale do Amanhecer é quase uma cidade, possui linha de ônibus, lojas de souvenir, lanchonetes, livrarias, cursos e um orfanato. A comunidade se mantém através de doações, frutos de seu comércio e agricultura. Realizei as visitas e passei alguns dias conhecendo todo o complexo, percebendo tanto as suas práticas religiosas, quanto algumas de suas características socioeconômicas. Na questão religiosa, o que mais me chamou a atenção foi o hibridismo religioso presente na doutrina, assim como confirma o pesquisador Dioclécio Luz:

 

“A verdade é que o papel do Vale, como aglutinador de religiões ou, mais exatamente, de essências religiosas, e como formador de médiuns, transcende qualquer redução do fenômeno a velhas fórmulas escatológicas – psicanalíticas. No contexto de Brasília (uma cidade projetada para o futuro) é extraordinário que ao seu redor se instale um movimento de caráter messiânico, preocupado em desenvolver o potencial humanístico e sensorial do homem – algo absolutamente incompatível com o pragmatismo racional” [LUZ, 1986, p. 78].

 

A comunidade do Vale do Amanhecer chegou a ter mais de 800 mil fiéis. Atrai milhares de visitantes seja pelo turismo ou pelos atendimentos espirituais. A estatística é de cerca de 5 mil visitantes semanalmente [CIPRIANO, 2013]. O Vale do Amanhecer possui mais de 617 templos por todo o Brasil, Alemanha, Portugal, Estados Unidos, Uruguai e Equador.

O Vale do Amanhecer é concebido por seus membros como um lugar sagrado. O sagrado está presente no cotidiano das sociedades, marcando as estruturas das subjetividades humanas, constituindo-se como algo inato ao ethos e à visão de mundo. Assim, a ocupação do espaço pelas edificações se consagra pela manifestação do sagrado.

A sacralização do lugar não se restringe aos templos. Percebi a sacralização de todo o espaço da comunidade através das ações cotidianas dos membros, que transitam pelas ruas, realizando suas atividades cotidianas, como ir ao supermercado, trajando as suas indumentárias que marcam as hierarquias ritualísticas. Também vi muitas lojas de artigos esotéricos e lojas especializadas nestas indumentárias. Eventualmente ocorrem determinadas práticas religiosas nos espaços públicos, como nas ruas.

Mircea Eliade [1992] nos mostra que os templos, quando inseridos em cidades modernas, tornam-se o limiar entre o espaço sagrado e o profano. São ao mesmo tempo o local no qual os dois mundos se comunicam (profano e sagrado), mas nele se pode efetuar a passagem do primeiro para o segundo. “O limiar, a porta, mostra de uma maneira imediata e concreta a solução de continuidade do espaço; daí a sua grande importância religiosa, porque se trata de um símbolo e, ao mesmo tempo, de um veículo de passagem” [p. 19]. A própria comunidade do Vale do Amanhecer se torna um espaço sagrado. O templo apenas define que aquele é um local no qual se manifesta o transcendental, pois é considerada uma zona telúrica.

Diversos símbolos estão presentes por todo o complexo, símbolos estes, provenientes de antigas culturas, formando um rico mosaico, com elementos maias, incas, astecas, egípcios, dentre outros. Estes símbolos se comunicam organicamente com elementos do cristianismo, mais propriamente de sua vertente Espírita, com elementos das religiosidades afro-brasileiras, tradições esotéricas e ufologia.

Nas suas dependências destaca-se a Pirâmide (Figura 1), edifício de seis metros de altura, foi inaugurada no ano de 1979. É aberta à visitação pública, destinada a meditação. A pirâmide representa um local de recepção, manipulação e difusão de energias [IPHAN, 2010, p. 143]. Os médiuns disponibilizam aos visitantes a água fluidificada (água normal, na qual são acrescentados fluidos curativos espirituais). São realizados rituais que objetivam a magnetização da água através da força de espíritos através de um cristal que se localiza no cume da pirâmide. No seu interior, há imagens das várias entidades cultuadas pela Doutrina, como o Pai Seta Branca. No revestimento da pirâmide, podemos encontrar as esculturas do faraó Akhenaton, sua esposa Nefertiti, e o filho do casal, Tutancâmon.

 

Figura 1 - Pirâmide da Estrela Candente

Fonte: Autoria própria (2019).

 

De acordo com o estudioso de ocultismo e arquiteto Marcelo del Debbio [2008], a pirâmide no Egito Antigo possibilitava a abertura dos chakras despertando poderes de projeção astral, telepatia, clarividência, dentre outros e que também serviam de observatório espacial. Por gerar um campo energético ao seu redor, as pirâmides despertavam nos sacerdotes altas habilidades matemáticas e astronômicas. Existem outras crenças que afirmam que a Grande Pirâmide emite uma radiação energética para a galáxia, servindo como um ponto de comunicação com os viajantes espaciais.

De acordo Mário Sassi [2000], esposo de Tia Neiva, em sua obra A conjunção de dois planos, Tia Neiva realizou uma viagem astral pelo Egito, sobrevoando as pirâmides, sob os ensinamentos do Capelino Stuart a respeito dos segredos da sabedoria cósmica contida dentro destes edifícios. Sassi relata a conversa entre Tia Neiva e Stuart que a explica a respeito da função das pirâmides:

 

“As pirâmides, Neiva, eram centros de manipulação de energias, verdadeiras usinas de força. Ali se concentravam os grandes cientistas para a conjugação de suas forças psíquicas, como hoje se reúnem os médiuns nos templos iniciáticos. Ali se concentravam os conhecimentos e a documentação dos planos planetários, os instrumentos básicos e os meios de comunicação. O grande Jaguar era um especialista na construção de pirâmides. Ao perceber que o fim de Omeyocan se aproximava, ele deslocou-se para o Egito e lá emprestou sua colaboração aos Orixás responsáveis por aquela área. Com sua química, eles decompunham as rochas e as moldavam de acordo com as necessidades. Possuíam prensas com as quais moldavam grandes blocos e tijolos. Por processos eletromagnéticos, eles vitrificavam as superfícies e movimentavam os blocos gigantescos, com a mesma facilidade como os pedreiros atuais movimentam tijolos” [p. 51].

 

O espírito revela a respeito da importância destes locais:

 

“Neiva, – disse ele – observe aquelas pirâmides. No seu interior estão encerrados preciosos ensinamentos, suja revelação poderia modificar toda a trajetória humana. Elas ocultam tesouros da sabedoria cósmica, representados por documentos, máquinas e provas vivas desse conhecimento. Além deste, existem mais três pontos da Terra em que essa herança está guardada. Uma situa-se entre as ruínas do império incaico, o outro está no Brasil Central, e o quarto num ponto que ainda não pode ser revelado. Esses segredos virão à tona, mas creio que tarde demais para serem aproveitados pela humanidade atual” [ibidem, p. 35].

 

Stuart havia dito à Tia Neiva que os formatos piramidais presentes no Egito e na América não existiriam ao acaso. Haviam trocas de informações e experiências entre estes locais, e os próprios pontos distribuídos no planeta faziam parte de um plano global. Esses pontos energéticos nos quais foram construídas essas edificações existiriam pela necessidade de se defender dos ataques de falanges das sombras,

 

“espíritos tenebrosos, acrisolados, há milênios, nas sombras. Vão sendo desalojados e lançados na Terra física. É por isso, que o mundo se apresenta tão cheio de contradições, de indivíduos enlouquecidos e de obsessores tão terríveis” [p. 60].

 

A falange missionária Dharman-Oxinto tem sua origem no Egito Antigo, a partir dos cultos a Hórus e Amon-Rá na cidade de Karnak. A princesa Aline teria reencarnado em uma suma sacerdotisa de Hórus, chamada Horibe. Com o apoio da esposa de Ramsés II, Nefertari, a sacerdotisa realizava grandes fenômenos sobrenaturais em público, como curas físicas. A princesa Aline tornou-se então mentora da falange no plano espiritual, enquanto, Nefertari, a mentora do plano físico [SILVA, 1996, p. 06]. A indumentária utilizada pela falange apresenta traços semelhantes às representações de Nefertari nos papiros, como podemos perceber nas figuras 2 e 3.

 

Entre as várias representações de Nefertari se destaca essa, que apresenta a rainha com um vestido preto longo, amarrado por uma faixa vermelha na cintura, uma coroa com duas plumas e um abutre, e um colar usekh. Esse papiro foi colocado no Manual das Dharman-Oxinto (1996) escrito pela 1ª Dharman Oxinto, Dinah da Silva. As ninfas da falange Dharman-Oxinto também utilizam um longo vestido preto, com um cinto, por sua vez, dourado ou prateado, para representar o sol e a lua. Sob eles caem algumas correntes, que também lembra alguns detalhes da vestimenta de Nefertari. Outro ponto em comum é a utilização do colar usekh. De acordo Silva [1996, p. 08], a indumentária é uma réplica do que é usado nos planos espirituais, dentro de nossas limitações materiais e protege o indivíduo de forças negativas.

 

“Indumentária é, por definição, o vestuário usado em função a épocas ou povos e, por isso, todas as roupas que usamos para nossos trabalhos espirituais, no Vale do Amanhecer, podem ser consideradas como indumentárias, pois buscam representar, de maneira rude, porque nossas limitações materiais são enormes, o mostrado nas visões de nossa Mãe Clarividente dos povos dos planos espirituais [...] A indumentária busca levar o padrão vibratório não apenas do médium que a usa, mas, sim, também, as dos pacientes e demais pessoas que o cercam. O uniforme nivela todos, evitando que, se usássemos roupas comuns, houvesse aqueles que estivessem melhor vestidos do que outros, provocando, por isso, vibrações favoráveis para uns e desfavoráveis para outros [...]” [ibidem, p. 27].

 

Todas as cores, formas e elementos nas indumentárias se relacionam com as energias manipuladas nos rituais. Elas protegem os seus portadores de cargas negativas. Silva [1996, p. 30 – 35] descreve minuciosamente cada item, como por exemplo a utilização da cor preta, que é utilizada por ser verdadeiro ímã magnético, para realizar trabalhos desobsessivos. As luvas deixam livres os chakras das palmas do usuário, concentrando energias. O adereço sobre a cabeça, chamado de Pente, representa um feixe de energia que flui do chakra coronário, que protege e ioniza a cabeça da ninfa. O conjunto formado pela gola, correntes e cinto é chamado de Arma, que protege os plexos das ninfas. As golas funcionam como espelhos refletores de energias que fluem das ninfas para os pacientes. Os cintos criam um campo magnético energizando os plexos. As duas correntes atuam como descargas do campo magnético.

Como podemos perceber, vários elementos presentes na estética e nas práticas ritualísticas dos adeptos do Vale do Amanhecer retomam elementos do Egito Antigo além de outras culturas antigas para atribuir ao seu espaço sagrado uma certa legitimidade. Faz parte do seu discurso a ideia de que uma doutrina descendente do Egito Antigo se instalou na capital do Brasil para realizar uma importante missão, a de atuar positivamente em prol deste povo em uma guerra espiritual. Então é necessário que toda a magia e poder do Egito Antigo seja evocada para que a árdua missão tenha sucesso.

O Vale do Amanhecer não é a única doutrina que realiza esse tipo de retomada do Egito Antigo, como podemos perceber nas práticas de outros grupos como a Ordem Rosa-Cruz, a Eubiose, a Legião da Boa Vontade, dentre outros. O Egito Antigo tem encantado as sociedades ao longo da História. Comumente, suas reapropriações são carregadas de elementos místicos, fenômeno este, justificado em parte pelas diversas lacunas ainda existentes na ciência, que tem realizado investigações de seus mistérios até os dias de hoje. O Egito ainda intriga arqueólogos, historiadores e outros pesquisadores, e por outro lado, fascina a todos pelos seus legados monumentalistas e perenes.

 

Referências

Pepita de Souza Afiune é doutoranda em História pela Universidade Federal de Goiás. Bolsista CAPES / FAPEG. Mestra em Ciências Sociais e Humanidades (UEG). Graduada em História e Pedagogia.

 

CIPRIANO, Leandro. Vale do Amanhecer, símbolo de sincretismo religioso, atrai milhares de visitantes. Agência Brasília. Brasília: Secretaria de Estado de Comunicação do DF, 2013. Disponível em: https://www.agenciabrasilia.df.gov.br/2013/12/06/vale-do-amanhecer-simbolo-do-sincretismo-religioso-atrai-milhares-de-visitantes/. Acesso em 14 de abril de 2019.

DEL DEBBIO, Marcelo. Energia telúrica, Linha de Ley, Pirâmides e Círculos. 2008. Disponível em: https://www.deldebbio.com.br/energia-telurica-linha-de-ley-piramides-e-circulos/. Acesso em 13 de janeiro de 2019.

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. Trad. Rogério Fernandes. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

IPHAN, Superintendência do Distrito Federal. Vale do Amanhecer: Inventário Nacional de Referências Culturais / Deis Siqueira, Marcelo Reis, Jairo Zelaya Leite, Rodrigo M. Ramassote. – Brasília, DF: Superintendência do Iphan no Distrito Federal, 2010.

J.S. Entrevista IV. [abr. 2019]. Entrevistador: Pepita de Souza Afiune. Anápolis, 26 de abril de 2019. 1 arquivo .mp3 (30 min.).

LUZ, Dioclécio. Roteiro Mágico de Brasília. Ilustração de Antônio José. Brasília: CODEPLAN, 1986.

SASSI, Mário. A conjunção de dois planos. Planaltina: Ed. Vale do Amanhecer, 2000.

SILVA, Dinah da. Manual das Dharman Oxinto. Casa do Jaguar. Vale do Amanhecer, 1996. Disponível em: http://casadojaguar.blogspot.com/2017/04/manual-dharman-oxinto-pdf.html. Acesso em 03 de setembro de 2020. 

11 comentários:

  1. Prezada Pepita, senti-me atraído pelo título de seu texto e a sua leitura aguçou ainda mais minha curiosidade sobre o Vale do Amanhecer, doutrina que me eram completamente desconhecida até agora.
    Você estabeleceu que a doutrina é sincrética e parece-me que reúne crenças e valores cristãos, de religiões de matriz-africana e espiritismo. No tocante à religiosidade egípcia você mencionou a tentativa da doutrina do Vale do Amanhecer de se aproximar do reinado de Ramsés II e sua esposa Nefertari, inclusive fazendo uso da indumentária registrada pela iconografia egípcia. Contudo, uma questão que me surgiu é a seguinte:

    - Existe alguma apropriação mais consistente feita pela doutrina do Vale do Amanhecer em relação à religiosidade egípcia? Eles se apropriam de algum dos mitos cosmogônicos egípcios, por exemplo?

    Eu faço esta pergunta na intenção de entender qual é a fonte de informação sobre a religiosidade egípcia utilizada pela doutrina do Vale do Amanhecer. Parece-me que não é a historiografia oficial. Se isto for verdadeiro, você conseguiu mapear de onde provém esse imaginário que dá cor às crenças e a doutrina praticada no Vale?

    Por gentileza, também fiquei curioso para saber mais sobre os adeptos desta doutrina e sobre os aspectos socio-econômicos que você elucidou em sua pesquisa até o momento.

    Atenciosamente,

    Henrique Bueno Bresciani

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    1. Prezado Henrique, muito obrigada pelas suas considerações e pelo interesse pela minha pesquisa! Sobre o sincretismo da doutrina, sim, é isso mesmo que você analisou. Especificamente sobre a apropriação da cosmogonia egípcia, há sim uma grande exploração por parte da doutrina, por exemplo, uma das falanges (que são subgrupos que realizam as ritualísticas), cada um deles possui uma origem histórica, e no caso da Dharman-Oxinto tem sua origem no Egito Antigo, que nos mostra a devoção aos deuses egípcios antigos. Eu já encontrei menção deles ao Livro dos Mortos, aos estudos de Hermes Trimegisto, ao mito criador de Aton, dentre outros. Então, acredito que eles se baseiam em escritos antigos (para procurar legitimar suas crenças) e fazem suas próprias readaptações, talvez necessárias ao processo sincrético. Inclusive, Tia Neiva seria um espírito reencarnado em diversas épocas históricas, tendo sido a Cleópatra em um desses momentos.

      A respeito dos aspectos socioeconômicos, o Vale do Amanhecer é uma grande comunidade que se tornou quase uma cidade, que vive em função da doutrina. Tem comércios e templos espalhados pelo território. Sendo assim, foi agregando pessoas das mais diversas culturas, tanto entre os membros quanto entre os visitantes. Dentre esses dois grupos sociais que cito, percebo que há uma heterogeneidade social em ambos. Entre os membros há diversas hierarquias que vão se formando através de determinados ritos , independente da questão social ou financeira. Eles dizem que então uma pessoa humilde, um trabalhador, pode se tornar alguém importante dentro da hierarquia da doutrina. Até mesmo na utilização das vestimentas, que possuem um valor para adquirir, existem alguns programas sociais no sentido de auxiliar aqueles que não possuem o poder aquisitivo. Entre os visitantes também existe uma heterogeneidade grande, porque atrai pessoas em busca de diversas coisas, seja cura espiritual, física, soluções para problemas materiais ou outras questões. E todos são atendidos sem distinção.
      Pepita Afiune

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  2. Não conhecia o Vale do Amanhecer, realmente desperta a nossa curiosidade e levanta várias questões. Quando você cita a mistura do Egito Antigo com ufologia me fez lembrar daquelas teorias da conspiração "Eram os deuses astronautas" que ETs teriam visitado o Egito Antigo e eles seriam a fonte dos mistérios e da grandiosidade egípcia. A doutrina do Vale do Amanhecer se aproxima dessas ideias? A doutrina atrela o desenvolvimento da civilização egípcia à interferência dessas entidades interplanetárias?

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    1. Prezada Francismara, muito obrigada pela sua participação!
      Sobre o seu questionamento, foi muito bem lembrado a respeito da teoria de Eric von Daniken sobre os 'deuses astronautas'. Apesar de o Vale do Amanhecer se basear em escritos antigos, como citei para o colega Henrique acima, nesse caso, procurando oferecer uma legitimidade às suas crenças, ao mesmo tempo, o Vale retoma sim essas ideias relacionadas a ufologia esotérica. Se analisarmos pela visão puramente científica, veremos que Tia Neiva estudou bastante história e culturas antigas. Seus relatos dizem que todo o seu conhecimento foi obtido através de viagens astrais sob ensinamentos dos grandes mentores espirituais. Estes mentores são seres interdimensionais, intermediários entre os seres humanos e os deuses supremos (justamente aqueles que se acredita que auxiliaram os humanos a construírem as pirâmides). Assim, o Vale demonstra crenças nessas teorias que você mencionou como teorias da conspiração. Eles acreditam que a civilização egípcia foi formada por essas entidades intergalácticas, e é o dever dos médiuns de agora, resgatar esse conhecimento para transmitir para as gerações. De fato seu sincretismo é muito rico, porque além de associar as entidades de diversas culturas antigas, as relacionam à crença dos ufólogos da vertente esotérica.
      Pepita Afiune

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  3. Boa tarde! Parabéns pelo texto.
    Conforme citado no artigo, “O Vale do amanhecer é uma doutrina não tirada de nenhum seguimento, religião, seitas ou livros filosóficos. Tem o seu sistema próprio e uma doutrina cristã, porém ligado a ciência. (...)"
    Você poderia, por favor, esclarecer essa fala? Porque foi dito que a doutrina não faz parte de nenhum seguimento, logo em seguida que é uma doutrina cristã. Minha outra dúvida é se há algum motivo que levou à escolha de temas do Antigo Egito, como as pirâmides e vestimentas.

    Ana Paula Sanvido Lara

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    1. Prezada Ana Paula, muito obrigada pelas suas contribuições!
      Sobre os seus questionamentos, primeiramente, a respeito dessa fala no artigo, ela foi recortada de uma entrevista que realizei com um membro da comunidade, e que transcrevi em suas palavras uma tentativa de explicar a doutrina. Portanto, acredito que quando ele fala ““O Vale do amanhecer é uma doutrina não tirada de nenhum seguimento, religião, seitas ou livros filosóficos. Tem o seu sistema próprio e uma doutrina cristã, porém ligado a ciência. (...)"” Ele quer dizer que a doutrina é única, ressaltando a sua autenticidade. Seria que a doutrina não tem uma ramificação direta do cristianismo, mas sabemos que ela realiza reapropriações de diversas culturas antigas, procurando estabelecer um diálogo com a ciência. Sabemos também que ela permuta elementos do cristianismo com as entidades de antigas religiões, como a egípcia.
      Isso entra em seu segundo questionamento, sobre o por quê dessa retomada do Egito Antigo. Muitos cientistas sociais denominam esse fenômeno de “orientalização do ocidente”. Seria uma retomada das culturas antigas mais afamadas, pelas suas grandes realizações, feitos existentes até hoje e mistérios que a própria ciência ainda não conseguiu desvendar. Foi atribuído ao oriente um caráter de exotismo a partir do orientalismo do século XIX. As reapropriações contemporâneas do Egito Antigo são heranças desse orientalismo, e fazem parte de um contexto permeado pelo misticismo mais exacerbado, que busca nas civilizações orientais clássicas afamadas a base para justificar sua doutrina frente a uma renovação espiritualista proeminente no século XXI. Nesse contexto, a civilização egípcia antiga se destacou, sendo utilizada pelos grupos místicos e esotéricos a partir de seus “grandes feitos” que marcaram a história da humanidade.
      O Egito Antigo não é o único inspirador destas doutrinas, pois percebemos que outras culturas milenares, como a maia e a hebraica também passam por esse processo de romantização por parte do espiritualismo moderno.
      Pepita Afiune

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  4. Parabéns pelo excelente texto!!Fantástico!! Já tinha ouvido comentários sobre o Vale do Amanhecer, como um lugar místico, cheio de energias e com um grande potencial em ajudar as pessoas, em especial as que tivessem um pouco de mediunidade, para poder se comunicar com a força espiritual que existe em cada um de nós, mas não explorada. Esse texto me informou muito sobre esse fenômeno espiritual de energias que existe no Vale.
    Obrigada por compartilhar seus conhecimentos a respeito da pesquisa .

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