Levi Yoriyaz

 A CONCEPÇÃO DE TOYO E O CONTRASTE COM O ORIENTE


O Oriente e o Ocidente imaginado pelo Japão

A presença europeia no Extremo Oriente e os seus avanços imperialistas nas nações como a China e Índia, levaram a elite japonesa lidar num dilema de definir o que é ‘ser civilizado’, levando em conta com as concepções de ‘progresso e desenvolvimento’, como referência para estabelecer um ideal de uma nação forte e próspera. O problema desta discussão é que o governo japonês no final da gestão Tokugawa (1603-1869) e no início de Meiji (1868-1912) testemunhou o potencial das indústrias europeias, assim como a execução de seu poderio bélico nas nações vizinhas do Japão. Desse modo, questões como civilização, modernização, tradição, ciência e razão se tornam tópicos de discussão entre os pensadores e intelectuais japoneses, ao comparar a sua cultura com a europeia, com o intuito de resolver um problema emergente, que consiste em responder ‘o que de fato é civilização?

Este movimento pode ser caracterizado mais como uma reação, pois os estadistas japoneses assistiram a nações como China e Índia serem submetidos pela administração europeia através dos movimentos de expansão imperialista vindos do ocidente à Ásia. Tanto os chineses e indianos acabaram perdendo grande parte de sua autonomia administrativa, tanto na sua soberania de gerir seu território quanto no controle de exportação e importação de mercadorias no âmbito internacional. A Índia era administrada pelo Raj britânico em Calcutá desde 1858, enquanto a China sofria com crises sanitárias e econômicas devido ao ópio nos intervalos de 1830 a 1860. Além disso, este período foi marcado pelas Guerras do Ópio e os chamados Tratados Desiguais, como os tratados de Nanjing (1842) e de Tientsin (1858), em que cidades portuárias chinesas passaram a ficar sob controle da jurisdição britânico. Tais circunstâncias fizeram com que o governo japonês tomasse um posicionamento e medidas para preservar a soberania de sua nação, temendo a possibilidade das potências ocidentais subjugarem o Japão da mesma forma como fizeram nos governos vizinhos. Para isso, foi necessário que os estadistas reformulassem a composição e estrutura de governo, assim como haveria de mudar a referência a respeito do saber tecnológico, atualização do conhecimento científico.)

Segundo Stefan Tanaka, em Japan’s Orient: rendering pasts into history (1993), o Japão se encontrava num processo de mudança epistemológica e etimológica em relação a sua própria identidade, assim como de seu relacionamento com os demais países vizinhos. Por exemplo: antes a China era considerada referência central para os japoneses. A sua fundamentação de sociedade era e institucional baseada nos princípios confucionistas chineses. Este modo de administração tem sido adotado como modelo durante séculos, não apenas no Japão, mas também nos reinos coreanos (WATANABE, 2010, pg. 70). Porém, com o advento das Guerras do Ópio e a fragilização do império chinês perante a expansão imperialista britânica, a China deixou de ser referência de uma nação modelo para os japoneses, e as nações ocidentais passaram a ser vistas como uma modelo alternativo, no sentido de desejarem obter a mesma superioridade bélica que os europeus. Desse modo, estadistas e pensadores japoneses como Enoki Kazuo (1913-1989), passaram a alterar sua perspectiva sobre a concepção de ‘civilização’, ‘modelo de nação’ e mudar a sua postura e até mesmo a forma de tratamento dos demais países vizinhos. Podemos observar esta situação no caso da China, com a proposta de alterar o termo chugoku, forma utilizada pelos japoneses para se referir a China, para shina:

 

Shina is the Japanese appellation for China most commonly used during the first half of the twentieth century. After the World War II the name for China reverted to chugoku (Middle Kingdom), a common name from before the Meiji Restoration (1868). Throughout much of Japan’s modern period various groups used shina to emphasize difference: nativist (kokugaku) scholars, for example, used shina to separate Japan from barbarian/civilized or outer/inner implication for the term chugoku; and in the early twentieth century Japan, shina emerged as a word that signified China as a troubled place mired in its past, in contrast to Japan, a modern Asian nation.” (TANAKA, 1993, pg. 3-4)

 

É interessante a alteração da nomenclatura de chugoku para shina considerando a relação China-Japão que compartilham o mesmo prisma linguístico, e que via razões políticas, ocorresse a implementação de um termo ocidental “China”, no lugar. Pois a constituição da palavra “china” advém das impressões dos viajantes europeus, no caso, de Marco Polo. E é importante frisar que este termo não exprime a identidade ou a realidade interna dos chineses ou dos japoneses. A expressão chugoku (中国), por sua vez, é compartilhado tanto na língua chinesa quanto japonesa, no caso, o termo tem o sentido de reino central, ou reino do meio (GARNET, 1996). Esse termo expressa a ideia de que a China seria representada como o centro do mundo, no sentido geopolítico, sugerindo uma posição da cultura chinesa como um modelo de civilização que se difundia às regiões da Indochina, Coreia e Japão.

A menção de kokugaku (国学 – “estudo do país”) na arguição de Tanaka consiste em citar uma vertente de intelectuais, durante a Era Meiji (1868-1912), que propõem a rejeição dos ensinamentos budistas e confucionistas. Segundo este grupo, os valores da fé xintoísta como deveria ser a base do Estado japonês, onde a figura do imperador seria legitimada via um discurso religioso, implementando a visão de história de que os imperadores detêm o poder legitimo de governar (NAGAHARA, 1998, pg. 53).

Assim, o deslocamento da utilização do termo shina (支那) em vez de chugoku foi um movimento de considerar a China como uma nação vizinha num patamar de igualdade. Logo, a menção do império chinês não seria mais vista como uma referência de uma ‘civilização-modelo’. A adoção da expressão shina é a mesma que os europeus utilizam para mencionar ‘China’, o que significaria uma alteração da relação política entre o Japão-China. Isso quer dizer que a nação chinesa seria tratada apenas como um país estrangeiro, da mesma forma que qualquer outra nação vizinha. Todo este deslocamento se deu devido a contribuição dos eventos das Guerras do Ópio (1839-1860) e dos Tratados Desiguais que a China teve de assinar com as nações europeias. Isto provocou uma reação da parte dos estadistas e pensadores japoneses a terem de mudar a sua postura internacional em relação as nações vizinhas e as potências europeias.

 

A concepção de Toyoum contraponto de ‘oriente’

Sobre a relação do Japão com as nações vizinhas e o Ocidente, considerando a conjuntura da China enfrentando os Tratados Desiguais e a ocupação inglesa nas suas cidades portuárias, estadistas e pensadores como Sakuma Shozan (1811-1864) desenvolveram a concepção de toyo (‘Leste’ ou ‘Oriente’) (TANAKA, 1993, pg. 5). Nela se estabelece uma imagem de definir o ‘oriente’ segundo a perspectiva japonesa, enquanto seiyo (‘Oeste’ ou ‘Ocidente’) trataria de assuntos relacionados a cultura ocidental.

A concepção de toyo () teve como função estabelecer uma identidade para o Japão, no sentido de que o governo japonês assumiu uma postura como nação moderna. Este movimento estabelece uma distinção com países vizinhos como a China, Índia e Coreia, no quesito geopolítico, onde o Japão representaria a figura de uma nação asiática moderna, tomando uma posição central, enquanto as demais nações apresentariam um papel secundário. A proposição de toyo também correspondeu a um englobar a cultura do leste asiático, tomando como referência a sua filosofia e ética com a finalidade de se diferenciar do Ocidente. O conceito de toyo, no entanto, se distingue da concepção de oriente estabelecido pelas instituições europeias, que procuraram caracterizar as culturas asiáticas na categoria de oriental. O foco de desenvolver a ideia de toyo se dava em estabelecer uma distinção entre a Europa e a Ásia (entende-se ‘Ásia’, nesta discussão, como o Japão, China, Coreia, e as culturas da Indochina), mas também servia de referência para diferenciar a cultura japonesa da Ásia, com a busca de encontrar uma identidade própria sem nenhum vínculo externo.

A discussão e o desenvolvimento da concepção de toyo, no entanto, não foi formalizada no meio acadêmico, o desdobramento deste tema foi via trabalhos e escritos e reflexões de estadistas japoneses como Honda Toshiaki (1744-1821) em Contos do Ocidente de 1798 e de Sakuma Shozan ao ter articulado a frase, “ética asiática e aprendizado da técnica ocidental” (tōyō dōtoku, seiyō gakugei東洋道徳西洋学芸). Ambos tiveram participação durante os períodos finais da administração Tokugawa na década de 50 do século XIX e eram apoiadores da política de que o governo japonês deveria reabrir os seus portos e iniciar atividades comerciais com as nações do Ocidente. Desse modo, foi via a estes estadistas que se desenvolveu a imagem do “Ocidente” como sinônimo de aperfeiçoamento técnico e de modernização, enquanto o ‘oriente asiático’ remeteria os princípios éticos e morais.

 

Okakura Kakuzo – ‘A Ásia como contraponto ao Ocidente’

A base que sustentou o conceito de toyo partiu das reflexões de Okakura Kakuzo (1862-1913) na obra Ideals of East, de 1903. A sua proposta consistiu em incorporar a imagem do Japão como a manifestação de toda a cultura asiática, alegando que a arte japonesa é fruto da junção da filosofia, religião e da estética chinesa e indiana. Sendo assim, o Japão seria a síntese do que pode ser afirmado o como ‘cultura asiática’ ou o representante da Ásia. Nesse sentido, a imagem do Japão passou a apresentar um perfil centralizador, o qual, segundo Okakura, apresentaria um papel de protagonismo, de modo que o Japão receberia o papel de ‘reviver a unidade asiática’ e defender a cultura oriental da ocidentalização na Ásia (TANAKA, 1993, pg. 14).

O posicionamento de Okakura consistia em contrapor o avanço imperialista europeu no contexto japonês no recorte da gestão Meiji, criticando o processo de ‘ocidentalização’. Nesse ponto, Okakura estabelece uma imagem de ‘Ásia’ que se distingue da Europa, argumentando que os povos asiáticos já apresentam uma concepção de ‘arte’, ‘cultura’, ‘civilização’ e ‘história’. Assim, para Okakura, não haveria a necessidade do Japão, por exemplo, em adotar ou se espelhar num modelo europeu para complementar as práticas sociais e culturais que fundamentassem a identidade de uma nação asiática:

 

“Asia is one. The Himalayas divide, only to accentuate, two mighty civilizations, the Chinese with its communism of Confucius, and the Indian with its individualism of the Vedas. But not even the snowy barriers can interrupt for one moment that broad expanse of love for the Ultimate and Universal, which is the common thought-inheritance of every Asiatic race, enabling them to produce all the great religions of the world, and distinguishing them from those maritime peoples of the Mediterranean and the Baltic, who love to dwell on the Particular, and to search out the means, not the end, of life.” (OKAKURA, 1920, pg. 1)

 

A obra de Okakura, Ideals of East de 1903, apresentada acima, teve como função estabelecer um manifesto de que a “Ásia” é uma junção de culturas que apresentam ‘elementos’ de ‘civilidade’ que seguem a definição europeia, assim como é uma forma de defesa, alegando que os povos orientais também possuem filosofia, história, e conhecimento científico do mundo natural. Para isso, Okakura toma emprestado expressões como ‘civilização’, ‘indivíduo’, ‘universal’ como forma de apresentar tanto o Ocidente e o Oriente numa relação de equivalência, contestando o argumento de que a cultura europeia é superior à asiática (RACEL, 2011, pg. 71). Assim, a argumentação de Okakura serviu como base para a conceituação de toyo, dando corpo a uma representação de oriente que contraponha com os valores do ocidente.

 

A formalização de Toyo na Academia Japonesa

O desenvolvimento da concepção de toyo foi formalizado no meio acadêmico a partir de Shiratori Kurakishi (1865-1942) propondo a expressão toyoshi que significa ‘História Oriental’. O objetivo era extrair características culturais e sociais das nações como a China e Índia que indicassem pontos que colaboraram para a formação da cultura japonesa, tais como a escrita e as artes. Este procedimento atentava à análise e coleta de fontes escritas (documentos, crônicas e relatórios oficiais) via uma abordagem indutiva, atentando à descrição minuciosa e da precisão dos fatos (TANAKA, 1993, pg. 10-11). 

A proposta de toyoshi (), para Shiratori consiste em fazer uma história da Ásia, separando-a, assim, dos eventos da Europa. Para os estudos concernentes a narrativas e acontecimentos históricos europeus, haveria o seiyoshi (西). Assim, apresentaria duas histórias a serem narradas e estudadas de maneira separada. Toyoshi teria o papel de desdobrar as bases que moldaram a formação cultural e social dos povos orientais, traçando uma narrativa que elabore propostas de identidade nacional para o Japão, enquanto seiyoshi estaria encarregado de desenvolver estudos de como os reinos europeus apreenderam as técnicas e modelos institucionais ou, em outras palavras, ‘como se deu o processo de modernização na Europa’. O objetivo dos estudos em seiyoshi era buscar possibilidades de aplicar ou adequar estes ‘modelos’ e ‘técnicas’ estrangeiras nas instituições japonesas como sinal de modernizar o país.

Um grande exemplo de intelectuais japoneses que se inspiraram em ideais europeus como proposta de governo foi Fukuzawa Yukichi (1834-1901). A sua proposta se dava em desenvolver estudos sobre a história e a cultura europeia, no intuito de otimizar o ensino a respeito do conhecimento das ciências naturais, históricas e políticas no contexto japonês. Segundo Yukichi, o Japão, durante a Era Meiji (1868-1912), era uma nação semi-civilizada e incompleta, que necessitava do ‘complemento do conhecimento científico europeu’ para se tornar moderna (RACEL, 2011, pg. 72-73).  Nesse sentido, Yukichi publicou a série Seiyo Jiyo (西洋事情 - Condições do Ocidente) de 1866-1870 e Seiyo tabi na’nai (西洋旅案内- Guia de Viagem para o Ocidente) de 1867, como materiais e referência sobre as sociedades europeias, apresentando a descrição dos hábitos e costumes, mais o detalhamento dos modos de governo e conhecimento tecnológico utilizado na Europa.

A disseminação de materiais e ensino de técnicas e informações relacionadas a cultura europeia ficou conhecido como bunmei kaika (文明開化- civilização iluminada), movimento que motivou pela divulgação de ideias referentes ao Iluminismo europeu (EHALT, 2013, pg. 121). Além disso, Yukichi também foi responsável por fundar a Universidade de Keio, em 1858, uma das primeiras instituições de ensino superior, cuja especialidade foi em tratar de estudos sobre o Ocidente (MACFARLANE, 2013, pg. 22). Nela, foram divulgados os ensinamentos de bunmei kaika, que se tornou uma vertente historiográfica conhecida como ‘história civilizatória’, cujo lema era inserir a história do Japão como parte da narrativa da história universal proposta pelos europeus. Acreditava-se que realizando este tipo de adoção poder-se-ia desenvolver uma narrativa em que o processo de modernização seria um fenômeno natural que devesse ocorrer em todo tipo de sociedade, uma vez quando for dada as circunstâncias adequadas para a determinada cultura se modernizar. O diálogo com essas ideias permitiu a Yukichi a escrita do livro An Outline of a Theory of Civilization de 1875. Nela, o autor argumenta da necessidade do governo japonês tomar medidas, adotando a ciência europeia como modelo de conhecimento e referência de civilização como um padrão a ser seguido, alegando que a Europa é um exemplo de uma cultura desenvolvida e avançada, em contraste ao saber ‘oriental’, que Yukichi considera como obsoleto e supersticioso (FUKUZAWA, 1875, pg. 99).

 

Conclusão

Pudemos ver que dentro da conjuntura intelectual japonesa, durante o final do século XVIII e no decorrer do XIX, se faziam presentes discussões e propostas de definir e representar concepções de ‘oriente’ e ‘Ásia’. O conceito de toyo é um exemplo em que se tem a tentativa de afirmar a cultura asiática, procurando distingui-la do ‘ocidente’ por meio do apontamento de trajetórias históricas e culturais que englobam uma noção de identidade compartilhada entre as comunidades asiáticas (lembrando que estas interações foram focadas mais na conjuntura Japão, China e Índia). Enxergamos essa tentativa por meio dos argumentos de Okakura Kakuzo e Shiratori Kurakichi, nos quais a ‘Ásia’ é apresentada como o palco de compartilhamento de culturas, religiões e filosofias, onde há formalização de uma possível identidade para o Japão. Enquanto para Fukuzawa Yukichi, Japão necessitava de uma nova referência de conhecimento, onde a sua metodologia fosse mais precisa, experimental, que superasse os saberes da ciência chinesa. Para isso, Yukichi propôs a construção de escolas, cujo o ensino se voltasse a estudos sobre a cultura europeia, sua ciência e filosofia, acreditando que apenas dessa forma, seria possível da sociedade japonesa obter a condição de uma cultura vista como ‘civilizada’ e ‘moderna’.


Referências

Levi Yoriyaz é mestrando em História na área de História Cultural do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas na Unicamp, sob a orientação da Prof.ª Dr.ͣ Raquel Gryszczenko Gomes Alves. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5526528700450072. Dr.ͣ Raquel Gryszczenko Gomes Alves é professora na área de História Contemporânea Unicamp, e coordena o grupo de pesquisa Mulheres de Letras: escritoras do século XIX e XX, Brasil, Europa e África. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1311323568131529.

 

EHALT, Rômulo Silva. Notas sobre o nascimento da historiografia moderna no Japão. História da Historiografia, Ouro Preto, n. 12. Agosto, 2013. pg. 121.

GARNET, Jacques. A history of Chinese civilization. Cambridge: Cambridge University Press, 1996.

MACFARLANE, Alan. Fukuzawa Yukichi and the making of the modern world. Scots Valley: Create Space Independent. 2013.

NAGAHARA, Keiji. History and State in the Nineteenth-Century Japan. Tóquio: Ypshikawa Kobunkan, 2003.

OKAKURA, Kakuzo. Ideals of the East: with the special reference to the art of Japan. New York: E. P Dutton, 1920.

RACEL, Masako N. Finding their place in the world: Meiji intellectuals and the Japanese construction of east-west binary, 1868-1912. Georgia: Georgia State University, 2011.

TANAKA, Stefan. Japan’s Orient: rendering pasts into History. California: University of California Press, 1993.

WATANABE, Hiroshi. História do pensamento político no Japão. Tóquio: University of Tokyo Press, 2010.

YUKICHI, Fukuzawa. An outline of a theory of civilization, 1875. Tokyo: Columbia University Press, 2008.

2 comentários:

  1. Olá, Levi, parabéns pelo texto!
    Gostaria de saber qual foi a penetração das ideias de Okakura, Kurakishi e Yukichi nas políticas japonesas nos governos das suas respectivas épocas, ou em que medida essas ideias repercutiram culturalmente em seus contextos.

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    1. Boa tarde Nykollas. Agradeço pela questão.
      A respeito de como as ideias de Okakura se repercutiram na política política japonesa, no contexto da Era Meiji (1868-1912), poderia lhe dizer que a sua perspectiva de "Ásia" alinhado com o Japão, como manifestação da cultura asiática (isto é correspondendo as artes e filosofias chinesas e indianas), possibilitou para futuras interpretações que articulassem a ideia que o Japão apresentaria um papel ativo, no sentido que o Japão receberia o papel de ‘reviver a unidade asiática’ e defender a cultura oriental da ocidentalização na Ásia . Mais tarde as suas ideias seriam utilizadas como base, a partir da década de 30 do século XX, para legitimar movimentos ultranacionalistas japoneses (kokusuiteki - 国粋的), como legitimação do Japão como uma nação hegemônica com a função de 'unificar a Ásia', justificando as atividades expansionistas do império japonês no litoral da China, nas Guerras Sino-japonesas no recorte de 1894 até nas décadas de 1930.
      Sobre a proposta de Kurakishi e a sua repercussão na política japonesa, ela se ateve mais na formalização e criação de estudos ligados à História da Ásia (que subentende Japão, Índia e China), assim como uma linha separada que se trata em estudar temas ligado ao Ocidente (à Europa e os Estados Unidos) nos ensinos superiores. Esta divisão possivelmente contribuiu para a valorização da vertente Toyoshi (estudos sobre a 'História do Oriente') onde surgiriam linhas nacionalistas, tomando desta vez referências europeias como Herbert Spencer, Thomas Henry Buckle, no qual alegam discursos que evocam 'progresso', 'civilização' mas atribuídos à nação japonesa, o que mais tarde se tornaria a base para justificar as movimentações imperialistas japoneses no final do século XIX e no início do XX.
      Na questão de Fukuzawa, a difusão de suas ideias e a sua aplicação de introduzir conceitos e valores sociais e culturais europeus para a sociedade japonesa, teve um grande respaldo na fundação de escolas de nível básico e superior, como por exemplo a Universidade de Keio em 1858, exatamente com a intenção de disseminar o pensamento e os costumes ocidentais, tanto no aspecto intelectual como prático.

      Espero que eu pude esclarecer um pouco a sua questão.

      Levi Yoriyaz

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