Krishna Luchetti

 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL A PARTIR DAS MEMÓRIAS DA VOVÓ OK-SUN LEE: HISTÓRIA EM QUADRINHOS “GRAMA” COMO RECURSO DIDÁTICO


“Mesmo derrubada pelo vento e pisoteada por muitos, a grama sempre se reergue. Pode ser que ela te cumprimente de forma tímida, passando de raspão pelas suas pernas. O inverno está indo, a primavera chegando. O calor da primavera estará aqui em breve, derretendo o frio que parece não ter fim.” (GENDRY-KIM, 2020, p.478-479). É com essas palavras que a quadrinista coreana Keum Suk Gendry-Kim encerra “Grama”, a história em quadrinhos na qual ela passou anos trabalhando para contar a história da “vovó” Ok-Sun Lee. Ao comparar a senhora Lee à grama, Kim denota a persistência dessa mulher que seguiu forte, mesmo diante de tantos sofrimentos vivenciados desde a mais tenra infância até a velhice.

Mediante a narrativa criada por Gendry-Kim, acerca da vida da “vovó” Ok-Sun Lee, é possível olhar para a História sob uma ótica sensível e emocionante, por meio de suas memórias. Em “Grama” voltamos ao passado coreano, partindo da década de 1930 até os tempos atuais, sob o olhar da senhora Lee, junto ao pincel e árdua pesquisa de Kim. Nessa história, vê-se a pobreza e fome sob o domínio colonial japonês, as experiências de Lee Ok-Sun durante a guerra, sequestrada para ser uma “mulher de conforto” (escrava sexual do Império japonês), o fim da guerra e a retomada de sua própria liberdade.

Sendo assim, essa HQ forjada a partir das memórias da senhora Lee, em cotejo com a documentação oficial dos governos japonês e coreano, assim como de fotografias e dos depoimentos de outras mulheres, se apresenta como um valioso recurso didático a ser mobilizado por nós professores-historiadores. Tanto no que concerne a questão do conteúdo da Segunda Guerra Mundial, quanto ao fato de se tratar de uma obra feita por uma mulher coreana, sobre outra mulher coreana. Afinal, acredito que “uma educação multicultural exige dos professores um consistente trabalho de problematização sobre a formação da sociedade brasileira e uma consequente desconstrução de categorias para que temas e atividades escolares em torno da pluralidade cultural sejam efetivamente trabalhados nas aulas de História em prol da destruição de discriminações e preconceitos vinculados tanto por meio de discursos quanto de ações.” (AZEVEDO, 2011, p.182).

Ou seja, ao mobilizar “Grama” enquanto recurso didático, é possível aproximar o alunado dessas realidades que muitas vezes lhe parecem tão distantes. Mas, que também integram a formação do Brasil, visto que a comunidade do Leste Asiático é numerosa e de grande importância para nossa formação cultural e nacional. Além disso, muitos jovens brasileiros têm contato com uma miríade de produtos culturais coreanos, desde a música, com o popular k-pop, até dramas televisivos, filmes, roupas, produtos de beleza etc. De forma que, ao mobilizar a obra de uma artista coreana, o professor pode despertar ainda mais interesse por parte de uma porcentagem significativa do alunado.

Tendo tudo isso em vista, decidi propor uma sequência didática para aulas de História, mobilizando a HQ “Grama” enquanto recurso didático. Pois, enquanto professores “existe o problema de escolher documentos que sejam atrativos e não oponham muitos obstáculos para serem compreendidos, tais como vocabulários complexo (...), grande extensão, considerando o tempo pedagógico das aulas (...) e a inadequação à idade dos alunos.” (BITTENCOURT, 2011, p.330). Ao fazer uso de uma história em quadrinhos, penso justamente nesses aspectos, pois ela possui uma leitura fluída, sem vocabulários complexos, e na qual a discussão caberia no tempo pedagógico de quatro aulas.

Quanto ao recorte de faixa etária indicado para o uso desse recurso didático, sugiro aos pares que pensem nos nonos anos do Ensino Fundamental Regular, ou para os anos do Ensino Médio, visto que alguns temas trabalhados podem ser muito sensíveis para idades mais jovens. Também é possível trabalhar com esse tipo de literatura na Educação de Jovens e Adultos, acredito que se dará uma experiência muito enriquecedora. Vale lembrar que, fazer uso de uma HQ torna o documento atrativo, tanto por seu apelo imagético, quanto por sua forma de leitura, que traz imagens e textos curtos.

Afinal, aqui levo em consideração que as HQs são um recurso atrativo, porque “são o espaço do lúdico e sua narrativa, tal como o cinema, envolve uma estrutura diferente dos livros de História tradicionais. Não obstante, [...] reforça a necessidade de o professor atuar como mediador no trabalho com tal linguagem, problematizando o discurso histórico presente na HQ.” (LIMA, p.164, 2017). Desse modo, ao trabalhar com “Grama” pretendo fazer referência a trabalhos científicos acerca dos acontecimentos abordados na HQ. Dessa forma, instigo os pares a ler bibliografia acerca da Segunda Guerra Mundial no Pacífico e acerca do domínio imperialista japonês no leste asiático.

Quanto ao conceito de “mulheres de conforto”, para além da própria HQ, sugiro a leitura da dissertação da coreana Sun Young Nam. Esse conceito pode ser explicado e discutido com os alunos, por exemplo, criticando os termos “eufemistas” para se referir a escravidão sexual que essas mulheres sofreram. A autora pontua que, “Em 1990, os japoneses colocaram “candidatas (종군)” à frente da expressão ‘Mulheres de Conforto’ para se referirem a estas mulheres, a fim de distorcer a história, como se fosse a violação sexual ou tortura tivesse sido exercida de modo voluntário (Kim, 2016). Pela primeira vez na comunidade internacional, foi utilizado o termo “Mulheres de Conforto (Comfort Women)” neste caso, para descrever as mulheres vítimas de escravatura sexual, pelos exércitos japoneses. Hoje em dia, especialmente na ONU, os crimes relatados neste caso são descritos como escravatura sexual dos exércitos ou escravidão sexual. Conforme foi apresentado no relatório de Radhika Coomaraswamy, (Park, 2015) no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, este ato foi considerado por esta Relatora Internacional das Nações Unidas, como um ‘military sexual slavery in wartime’.” (NAM, 2018, p.19).

Tendo isso em vista, se faz pertinente discutir a questão da disputa historiográfica entre o Japão e a Coréia do Sul acerca desse acontecimento histórico. Visto que há uma negação das autoridades japonesas diante desse acontecimento, enquanto autoridades sul-coreanas e chinesas, principalmente ligadas a organização dos direitos humanos e partidos de esquerda, lutam para a validade historiográfica da exploração sexual dessas mulheres pelo Império nipônico. Em “Grama” ao final da HQ, Kim também aborda esse debate, e do quanto a vovó Ok-Sun Lee e outras senhoras que sofreram como “mulheres de conforto” permanecem em luta constante para validarem sua história. A própria Gendry-Kim, junto com outras pesquisadoras, conseguiu, por meio da pesquisa de campo e aos arquivos, confirmar vários dos depoimentos da senhora Lee.

Além disso, voltando a questão do formato do objeto escolhido, “Compreende-se que as HQs, além de um importante meio de comunicação, são uma manifestação artística das artes visuais que ensinam, carregam saberes, instruem e colaboram com a construção de conhecimentos. É um gênero que permite que a arte se faça saber.” (TAMANINI, COSTA, p.6, 2020). Portanto, é preciso que o professor trabalhe as imagens da obra enquanto signos daquilo que está sendo narrado, e estimule aos alunos que analisem tanto os textos escritos presentes no objeto, quanto os textos iconográficos.

Outro ponto a ser levado em consideração quanto a este tipo de recurso é que “as HQs constituem linguagem singular através da qual fatos, épocas e ideias são vividos por personagens, dando escala textual e imagética a tais elementos. Além disso, os quadrinhos promovem a leitura, a interpretação e a imaginação, aspectos diretamente relacionados às aulas de Linguagens, mas também fundamentais para as Humanidades e, especificamente, para a História.” (LIMA, p.168, 2017). Dessa forma, a partir das HQs também pode ser proposto uma sequência didática interdisciplinar, com as disciplinas de Artes e Língua Portuguesa, explorando esse gênero artístico e textual.

Também é importante pontuar que o próprio tema das relações étnico-raciais constitui um tema transversal entre as disciplinas escolares, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais. Dessa forma, é importante levar em consideração que, “O trabalho articulado de maneira transversal faz com que as atitudes desenvolvidas em diferentes atividades sejam complementares entre as áreas. Os temas transversais como questões sociais urgentes são norteados pela construção da cidadania e pela democracia.” (LIMA; AZEVEDO, 2013, p.137). Como é o caso da etnia “amarela” que infelizmente sofre com discriminações diárias, ataques racistas e extremamente xenofóbicos, até mesmo por indivíduos em cargos oficiais no Brasil. Portanto, abordando a obra de uma mulher coreana, também é possível discutir a questão dos preconceitos que muitas vezes os alunos trazem de casa, na sala de aula, e desconstruí-los.

Ora, para começar esta sequência didática, então, sugiro ao professor que selecione capítulos de “Grama” e os disponibilize para que os alunos (visto que nem todos os estudantes terão poder aquisitivo para adquirirem a obra, assim como muitas escolas não podem adquirir o material). Porém, caso a escola possa fornecer a obra completa aos estudantes, essa experiência se mostrará ainda mais enriquecedora. Visto que a história da vovó Ok-Sun aborda diversas temáticas importantes de serem trabalhadas em sala de aula, tais como violência contra a mulher, pobreza, racismo, guerra, acesso à educação etc.

Tendo em vista uma aula que trate da Segunda Guerra Mundial, ou até que trate de eixos temáticos como da violência contra a mulher, e afins, sugiro a seleção dos seguintes capítulos:

1 – “A garota que queria ir para a escola”: trata da infância pobre de Ok-Sun Lee durante o regime japonês, passando fome, cuidando dos irmãos e sem acesso à escola. Ao abordar esse capítulo o professor pode primeiro frisar a diferença entre os povos asiáticos (visto que, infelizmente ainda é uma noção difundida em nossa país que a Ásia é composta por um “povo só”). Assim como a questão da pobreza, e o acesso limitado a educação.

2 – “Caqui e cebolinha”: nesse temos o desenrolar da infância da senhora Lee com a família pobre;

3- “Filha adotiva”: quando ela é “adotada” por uma família coreana e tem de trabalhar como uma escrava para eles. Nesses dois pontos, sugiro o trabalho novamente com a questão da pobreza, relacionada ao trabalho infantil, as punições e a relação familiar narrada na história.  

5 - “Bar de Ulsan”: mostra mais uma faceta do trabalho escravo infantil e de como Gendry-Kim conheceu a vovó Ok-Sun. Nesse capítulo será extremamente pertinente instigar os alunos a perceberem como foi construída a narrativa a partir das memórias e depoimentos da senhora Lee em conversas com Kim, assim como as pesquisas de campo e nos arquivos realizadas pela autora.

6 – “Aeroporto Leste de Yanji”: o rapto e o cativeiro de Ok-Sun ao ser levada para ser uma “mulher de conforto” do exército japonês;

7 – “Virgindade”: cenas fortes e sensíveis que dizem respeito aos estupros sofridos pela senhora Lee quando ainda era menina nos campos de concentração em que ficou presa; e

10 – “A mana Yuna”: a história trágica de Seo Yuna como “mulher de conforto”. Ao trabalhar esses três capítulos, vê-se a faceta mais cruel e violenta da invasão japonesa e da Segunda Guerra Mundial. Sugiro o trabalho com o conceito de “mulheres de conforto”, assim como com a questão da violência de gênero.

Após essa seleção prévia, acredito que o professor deva explanar para as turmas seu plano ao trabalhar tal HQ, ou seja, quais são seus objetivos. Pois, a “aprendizagem passa por aquilo que nos toca, que nos faz sentir. Assim, o primeiro desafio de um professor de História, parece ser “atribuir sentido” para o aluno.” (SOARES JR.  2018, p.3).

Acredito que objetivos relacionados a desnaturalizar certos preconceitos acerca da história asiática, como aqueles relacionados as relações de gênero possam guiar esta discussão. Nesse ponto, acredito que o professor deva atentar para as carências de orientação no tempo dos estudantes para guiar suas práxis diária, a fim de tornar essa sequência didática ainda mais proveitosa (RUSSEN, 2001).

Novamente enfatizo a importância de frisar que o Leste asiático é composto por uma multiplicidade de nações, e que neste caso se está trabalhando com uma obra coreana, que aborda países como Japão e China. Afinal, “na verdade, a idéia da Ásia não é uma noção asiática, mas européia.” (HUI, 2005), tal noção inclusive contribuiu para muitos dos estereótipos e atitudes preconceituosas que tendem a generalizar todos os povos do lesta asiático como um só.

Acredito que no momento inicial, seja importante ouvir o que os alunos sabem sobre o país e o período estudado, o que sabem previamente sobre o imperialismo japonês, a Segunda Guerra no Pacífico e outros pontos acerca dos povos e conteúdo, dessa temporalidade e localidade. Pois, “a possibilidade [do aluno] de efetivar suas próprias idéias sobre os fenômenos e objetos do mundo social, em vez de ser um mero receptor passivo das informações do professor” (SCHIMIDT, 2004, p.62) é de grande importância para essa sequência didática.

Partindo dos conhecimentos prévios do alunado, o próximo passo é trazer para a turma os conhecimentos científicos acerca do tema, e acredito que uma fala muito pertinente é aquela proposta por Said, sobre o orientalismo. Esse autor considera que esse fenômeno gera muitas das atitudes discriminatórias ocidentais para com o Oriente Médio, mas também com outras regiões asiáticas, apontando que: “um é a absoluta e sistemática diferença entre o Ocidente, que é racional, desenvolvido, humanitário e superior, e o Oriente, que é aberrante, subdesenvolvido e inferior. Outro é que as abstrações sobre o Oriente, particularmente as que se baseiam em textos que representam uma civilização oriental “clássica”, são sempre preferíveis às evidências diretas extraídas das realidades orientais modernas. Um terceiro dogma é que o Oriente é eterno, uniforme e incapaz de definir a si mesmo; presume-se, portanto, que um vocabulário altamente generalizado e sistemático para descrever o Oriente de um ponto de vista ocidental é inevitável e até cientificamente “objetivo”. Um quarto dogma é que o Oriente, no fundo, ou é algo a ser temido (o Perigo Amarelo, as hordas mongóis, os domínios pardos) ou a ser controlado (por meio da pacificação, pesquisa e desenvolvimento, ou a ocupação pura e simples sempre que possível).” (SAID, 1990, 305).

Portanto, o ato de se mobilizar uma obra coreana deve ser trabalhado com os estudantes, a fim de contribuir para a erradicação de preconceitos e discriminações, que muitos deles acabam aprendendo nas mídias, redes sociais e afins. Aos pares, indico que tratem a análise de “Grama” levando em conta que “Os alunos e professores em sala de aula devem perceber as imagens e os objetos visuais como portadores de significados. Tomando essa compreensão como base, passam a ressignificar seus símbolos, releem suas expectativas e aprendem a constituírem-se como pessoas de relação plural. E isso ocorre à medida que eles interagirem numa dinâmica de reflexão e argumentação a partir de suas próprias histórias de vida e experiências humanas.” (TAMANINI, COSTA, p.7, 2020).

Acredito que ao analisar as páginas dessa HQ o professor instigue os alunos a expressarem o que estão aprendendo com a leitura, assim como se sentem diante dela. Por conseguinte, sugiro como atividade, que ao longo das quatro aulas propostas, o professor leia junto com os alunos os trechos selecionados, ou a obra integralmente, e peça a eles que elaborem tópicos com os pontos que conseguem ligar a obra ao conteúdo. Além desse viés mais conteudista, é importante fazer os alunos refletirem sobre os eixos temáticos que permeia a obra, como a violência contra a mulher, o trabalho infantil, ou outro que o docente considere pertinente para esta análise. Tendo isso em vista, sugiro aos pares pedirem pequenos textos aos seus alunos como atividade final da sequência didática em que eles desenvolvam o que aprenderam e sentiram a partir da leitura da HQ.

Vale lembrar, que este trabalho se dedicou a uma sugestão de sequência didática aos colegas professores, e não necessariamente um plano específico. Aqui, tenho a intenção de lançar ideias de como trabalhar um recurso didático que a meu ver tem grande potencial para a educação, trabalhando com diversas questões pertinentes, como já foi elencado até então, e tantas outras que podem surgir de experiências futuras. Acredito que as memórias da vovó Ok-Sun Lee, que ganharam vida sob o pincel de Keum Suk Gendry-Kim, são fontes valiosas para nossos estudos históricos, por isso faço-lhes o convite de mobilizar “Grama”.

 

Referências

Mestranda no Programa de Pós-graduação em História e Espaços da UFRN. Graduada em História Licenciatura pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

 

AZEVEDO, Crislane Barbosa. Educação para as relações étnico-raciais e Ensino de História na Educação Básica. SABERES, Natal, v.2, 2011, p.174-194.

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2011.

GENDRY-KIM, Keum Suk. Grama. São Paulo: Pipoca & Nanquim, 2020.

HUI, Wang. A reinvenção da Ásia. Le monde diplomatique Brasil. 2005.

LIMA, Aline Cristina da Silva. AZEVEDO, Crislane Barbosa de. A interdisciplinaridade no Brasil e o Ensino de História: um diálogo possível. Revista Educação e Linguagens, Campo Mourão, v.2, n.3, jul./dez. 2013.

LIMA, Douglas Mota Xavier de. História em quadrinhos e ensino de História. Revista História Hoje, v.6, n.11, p.147-171, 2017.

NAM, Sun Young. As relações diplomáticas entre a Coreia do Sul e o Japão: o caso das ‘Mulheres de Conforto’ da Coreia. Dissertação de Mestrado em Relações Internacionais. Universidade de Lisboa, 2018.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS - Ensino Médio. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/cienciah.pdf> Acessado em 06 de março de 2021.

RÜSEN, Jörn. Razão histórica: teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.

SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora. CAINELLI, Marlene. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004.

SOARES JÚNIOR, A.S. .Ensino de História e sensibilidade: o ver, o ouvir e o imaginar nas aulas de História. Disponível em <https://drive.google.com/open?id=18okWO5Ztz-tZjdamZgkANcc0sbstlecT> Acessado em 21 de março de 2021.

TAMANINI, Paulo Augusto. COSTA, Jonathan Diogenes. As histórias em quadrinhos (hqs) e o ensino de História: Canudos entre textos e imagens. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, SP, v.20, p.1-25, 2020.

12 comentários:

  1. Adorei o seu texto e a proposta. Fiquei refletindo... Pensando nesse "novo ensino médio", na sua opinião essa atividade poderia ser re-adaptada?
    Obrigada.

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    1. Boa tarde, fico muito feliz que tenha gostado do texto.
      Quanto a readaptação, acredito que sim. Afinal, é uma proposta voltada para a mobilização de um recurso didático, ou seja, é possível fazer essa abordagem de diversas formas diferentes, de acordo com a preferência do professor e também da turma. Não precisa ser necessariamente feita em uma aula de História, por exemplo.
      Muito obrigada pela atenção.
      Krishna Luchetti

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  2. Olá! Sua proposta de incluir "Grama" no ensino de História é muito interessante, parabéns.
    Estudo a cultura coreana e sei o quanto delicado é a temática das "mulheres de conforto", bem como todos os males do período da ocupação japonesa (visto que a tendência dos países é apagar da história esses momentos horríveis e covardes - falo isso no geral pois Portugal fez parecido nas guerras coloniais em regiões africanas).

    Vou para minha pergunta:
    O fato do governo do Japão ainda negar a existência das "mulheres de conforto" e tratá-las como se tivessem se voluntariado, ao invés de terem sido estupradas, colabora para uma desvalorização feminina e influencia na naturalização da violência contra as mulheres (o famoso: ela pediu por isso). Esse modo de pensar é reflexo de como o sexo feminino é tratado no Japão nos dias de hoje? Ou é simplesmente uma "desculpa" para os crimes cometidos pelo país?

    Não sei se fui clara na questão ou se estou indo um pouco mais além, todavia agradeço a atenção.
    Realmente adorei seu trabalho e gostaria de vê-lo em prática nas escolas.

    Abraço,
    Mayara Pereira Coelho Palandi Ruzene Bassanelli.

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    1. Boa tarde,
      Fico muito feliz com seu comentário Mayara! Muito obrigada!
      Quanto a suas perguntas, acredito que o gênero feminino vem sendo ainda mais desvalorizado no Japão com a ascensão de grupos e políticas ultra conservadoras. Além de pregarem a supremacia nipônica, esses grupos também reforçam o papel tradicional da mulher como "submissa" e "inferior" aos homens. Porém, acredito que aos deslegitimar a questão das mulheres de conforto, atribuindo a elas um suposto voluntariado, também é uma "desculpa" que o governo japonês usa para se defender das acusações de crimes de guerra. Afinal, poucos foram condenados por seus crimes de guerra no Japão, pós-Segunda Guerra Mundial. De fato é uma questão geopolítica bastante complexa e geraria um debate muito rico.
      Sobre esse assunto, gostaria de lhe indicar um filme coreano, "I can speak", ele aborda de forma bastante sensível e rica as questões pessoais, sociais e geopolíticas que envolvem essa questão.
      Abraços, tenha uma gloriosa semana,
      att: Krishna Luchetti

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    2. Muito obrigada pelo retorno e pela sugestão. Boa semana também!

      Abraço,
      Mayara Pereira Coelho Palandi Ruzene Bassanelli

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  3. Boa tarde! Parabéns pelo seu texto. A preocupação com a viabilidade da aplicação em sala de aula e como o conteúdo deve ser trabalhado a fim de diminuir e erradicar os preconceitos dos alunos são louváveis. Minha questão é, se você considera possível fazer um paralelo sobre as mulheres de conforto e as diversas formas de violência ainda sofridas pelas mulheres atualmente, visto que vivemos em um país bastante machista e com altos índices de violência contra a mulher. Parabéns pelo trabalho!

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    1. Boa noite, muito obrigada!
      Quanto a sua questão, bem, acho sim que seja possível usar o tema das "mulheres de conforto" como uma espécie de ponto de partida para trabalhar a violência contra a mulher na sociedade brasileira atual. Por exemplo, partir da discussão de Grama, e instigar nos alunos a pensarem nas continuidades e diferenças desse tipo de objetificação violenta do feminino, e do que se passa na atualidade.

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    2. Foi exatamente neste sentido mesmo que eu imaginei que se poderia trabalhar. Como eu disse, vivemos em uma sociedade ainda com valores muito machistas, e acredito que estes debates com os alunos são fundamentais pra que possamos construir gerações que pensem diferente.

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  4. Boa tarde, Krishna.
    Primeiramente, gostaria de parabenizar pelo excelente texto. Fico muito feliz em ler trabalhos que utilizam manhwas como materiais pedagógicos, facilitando, o processo de ensino e aprendizagem por parte dos estudantes. Além disso, é notória à difusão da cultura coreana e japonesa no ocidente por via dos mangás e manhwas, sendo uma forma de "soft power", segundo à expressão de Joseph Nye Jr.
    Perguntas:
    1º - A censura e negação dos crimes de guerra cometido pelo Japão no decorrer das guerras imperialistas, continuam sendo negadas pelos ultra conservadores, nesse sentindo, o caso de censura aos livros didáticos de Ienaga Saburo salienta essa disputa de narrativas. Assim, quais são os impactos dessas políticas negacionistas na construção historiografia e na relação entre os dois países?
    2º - Poderia à teoria ariana de Taguchi Ukichi construir um ethos, que tornassem estes crimes hediondos cometidos pelos japoneses em algo visto como "legítimo", tendo em vista, que os povos que sofriam essa barbárie eram povos "inferiores"?

    Agradeço desde já pela resposta.
    Abraço,
    att: Edvan Pereira Costa

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    1. Boa noite,
      Muito obrigada. Acredito que a questão do "soft power" se refira principalmente ao domínio, influência e imperialismo japonês, que ou é apagado, ou abordado de forma positiva em muitos mangás, animes e filmes. Porém, não tenho total domínio sobre o assunto, depois irei procurar ler Josephe Nye Jr.
      Quanto as suas perguntas:
      1°- Acredito que o impacto deste tipo de política é justamente a tentativa de um apagamento histórico por parte do governo japonês, com relação aos seus crimes de guerra e condutas violentas. Isso vale para a historiografia japonesa de vários períodos, um exemplo clássico desse tipo de apagamento e construção de figuras é a ideia do guerreiro samurai como um ideal horando que vivia sob o código Bushidô. No caso das "mulheres de conforto", muitos japoneses negam os crimes de guerra veementemente, com aval do governo. Isso, evidentemente, impacta de forma negativa as relações com países vizinhos que sofreram terríveis agressões dos japoneses, como coreanos e chineses. Não foram poucos os protestos contra essa postura do governo japonês, tribunais de Seul já chegaram a condenar o Japão a indenizar vítimas coreanas, dentre outros embates diplomáticos.
      2°- Acredito que para o partido ultra conservador japonês atual, é mais conveniente um apagamento desses possíveis atos, do que se filiar há uma visão como a de Ukichi (ao menos nessa questão). Afinal, se defendessem abertamente que por serem "superiores" tinham direito de violentar outros povos, ficariam muito mau vistos pela opinião internacional e dificilmente conseguiriam apoio para seus próprios projetos políticos.
      Obrigada por todas as questões, espero ter conseguido contribuir para o debate.
      Tenha uma boa semana,
      att: Krishna Luchetti

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