Jean Carlo Lima de Moura

 NÓS E OS OUTROS: RAÍZES DA INTOLERÂNCIA HISTÓRICA AOS ASIÁTICOS E A IMIGRAÇÃO AO BRASIL


Forasteiro, estrangeiro, bárbaro, ao longo da história foram inúmeros termos imputados àqueles de outra cultura, outra língua, originários de outras terras. O mundo ocidental, tributário das culturas greco-romanas, utilizou-se da noção de civilização para garantir supremacia. Na Grécia antiga, nota-se o advento das apoikia na expansão colonial e migrações para diversas regiões mediterrâneas.

Xenofobia foi o termo criado pelos antigos gregos para descrever um sentimento reflexivo de hostilidade ao estrangeiro. Félix Jácome Neto [2020] relata que: “na eugeneia ("nascimento nobre") típica da ideia aristocrática grega, o valor de um indivíduo era classificado de acordo com a nobreza de sua família”.

A questão racial ganha sua abordagem dogmática a partir da tradição judaico-cristã e por extensão às demais denominações abraâmicas, trata-se da maldição de Cam:

 

“Noé, que era agricultor, foi o primeiro a plantar uma vinha. Bebeu do vinho, embriagou-se e ficou nu dentro da sua tenda. Cam, pai de Canaã, viu a nudez do pai e foi contar aos dois irmãos que estavam do lado de fora. Mas Sem e Jafé pegaram a capa, levantaram-na sobre os ombros e, andando de costas para não verem a nudez do pai, cobriram-no. Quando Noé acordou do efeito do vinho e descobriu o que seu filho caçula lhe havia feito, disse: "Maldito seja Canaã! Escravo de escravos será para os seus irmãos". Disse ainda: "Bendito seja o Senhor, o Deus de Sem! E seja Canaã seu escravo. Amplie Deus o território de Jafé; habite ele nas tendas de Sem, e seja Canaã seu escravo”. [Gênesis 9:20-27]

 

Para o sacerdote metodista inglês Thomas Coke, “Deus aumentaria Jafé”, no sentido de glória e poder. Esta é a argumentação sincretizada para a crença já na Idade Média que os povos dos três continentes conhecidos, Europa, África e Ásia, seriam respectivamente descendentes de Jafé, Cam e Sem. Conforme defende o arcebispo Isidoro de Sevilha no século VII:

 

"eles foram os fundadores de cidades e regiões na Europa, Ásia e África. Toda a raça humana deve ser descendente deles e eles, Sem, Cam e Jafé, portanto, dividiram o mundo entre eles. A Europa era a parte de Jafé e sua numerosa prole e seus descendentes, por sua vez, foram os ancestrais de todos os grandes povos europeus: Francos, Latinos, Alemães e Britânicos, para citar apenas alguns". [LEYSER, 1994, p. 5]

 

Daí todo tipo de justificativa, especulação e defesa de que a maldição de Cam seria a permissão eterna para o prevalecimento dos europeus, em detrimento aos africanos em que lhes restaria o papel escravidão. Acima de Sem estaria Jafé, que habitaria a sua morada, “suas tendas”, chancelando o neocolonialismo na Ásia e desdobramentos exploratórios subsequentes.

 

A Revolução Química com Lavoisier no século XVIII, e as posteriores façanhas durante a Revolução Industrial que alçaram a Inglaterra como a grande potência da modernidade, trouxeram a impressão de progresso contínuo, a partir disso e do século XIX em diante, buscou-se empreender a padronização das ciências. George M. Fredrickson expõe a visão de diferenciação fenotípica entre humanos:

 

“O pensamento científico do Iluminismo foi uma pré-condição para o crescimento de um racismo moderno baseado na tipologia física. Em 1735, o grande naturalista sueco Carl Linnaeus incluiu os humanos como uma espécie dentro do gênero primata e então tentou dividir essa espécie em variedades. Essa tentativa inicial de classificação científica dos tipos humanos incluiu algumas criaturas míticas e “monstruosas”; mas o cerne durável do esquema era a diferenciação que Linnaeus fazia entre europeus, índios americanos, asiáticos e africanos. Embora ele não as classifique explicitamente, as descrições de Linnaeus das raças indicam claramente suas preferências. Europeus que ele descreveu como "perspicazes, criativos, governados por leis". Os negros, por outro lado, eram “astutos, indolentes, negligentes, governados por caprichos””. [FREDRICKSON, 2015, p. 56]

 

Charles Darwin, naturalista britânico, formulou as teorias de seleção natural e sexual das espécies, onde a luta pela sobrevivência resulta em consequências similares às da seleção artificial. Sobre o aperfeiçoamento em humanos havia dito:

 

“Suponha que todas as raças humanas descendam de uma raça - suponha que todas as estruturas de cada raça humana fossem perfeitamente conhecidas - suponha que uma tabela de descendência perfeita de cada raça fosse perfeitamente conhecida - suponha tudo isso, e então você não acha que a maioria [das pessoas] iria preferir a de melhor classificação genealógica, mesmo que ocasionalmente pusesse uma raça não tão próxima de outra, como teria estado, se disposta apenas pela estrutura? Geralmente, podemos presumir com segurança que iriam juntos, a similaridade de raças e seus pedigrees”. [Darwin, 1903, carta 204]

 

Francis Galton, primo do naturalista, estabeleceu conceitos similares aos de Darwin, porém a direcionar objetivos ao melhoramento da espécie humana, através da eugenia – “bem nascido”. Esta ideologia racial se tornou um movimento com adeptos nos diversos meios sociais e da grande parte de médicos e cientistas. Tim Mc Inerney explicita o pensamento de Aristóteles na relação, posição social e nascimento:

 

“Para Aristóteles, de fato, havia pouca dúvida de que o nobre título particular de arete convinha-lhe perfeitamente a sua função social – apenas o seu nascimento já o distinguia da multidão: “Pois os bem nascidos são cidadãos em um sentido mais verdadeiro do que os de origem inferior...”, afirma ele na Política, “aqueles que nasceram de melhores ancestrais provavelmente serão homens melhores, pois bom nascimento é excelência de raça””. [MC INERNEY, 2014]

 

Tal pressuposto norteava o imaginário de europeus como Galton, o entendimento de casamentos seletivos, pureza racial e o medo da miscigenação com raças ditas inferiores - negros africanos e asiáticos amarelos - Fredrickson relata que:

 

“O antissemitismo alemão do final do século XIX e do início do século XX diferia mais obviamente da supremacia branca americana do mesmo período nas formas contrastantes com que os alvos da agressão racista eram estereotipados. Os alemães temiam, nas condições competitivas modernas, que supostamente recompensam os inteligentes e inescrupulosos, os judeus pudessem ser seus superiores. A discriminação era justificada, portanto, como meio de autopreservação. A maioria dos americanos brancos, por outro lado, acreditava que os negros eram inatamente incompetentes em todas as maneiras que importavam. O perigo que representavam para os racistas radicais era a doença, a criminalidade violenta e a contaminação sexual que uma grande população em processo de degeneração ou “voltando à selvageria”, poderia apresentar aos seus vizinhos brancos”. [FREDRICKSON, 2015, p. 90]

 

Publicações no ramo da eugenia foram de enorme profusão entre os anos de 1870 a 1933. No Brasil o Boletim de Eugenia, periódico criado em 1929 e assinado pelo médico, Dr. Renato Kehl, discutia o dilema das raças:

 

“O mestiço brasileiro tem fornecido indubitavelmente á communidade exemplares notaveis de intelligencia, de cultura, de valor moral. Por outro lado as populações offerecem tal fraqueza physica, organismos tão indefesos contra a doença e os  vicios, que é uma interrogação natural indagar si esse estado de coisas não provém do intenso cruzamento das raças e sub-raças. Na sua complexidade o problema estadosunidense não tem solução, dizem os scientistas americanos, a não ser que se recorra á esterilização do negro. No Brasil si ha mal, este está feito, irremediavelmente; esperemos, na lentidão do processo cosmico, a decifração do enigma com a serenidade dos experimentadores de laboratorio. Bastarão 5 ou 6 gerações para estar concluida a experiencia" [sic]. [KEHL, ano 1, n. 6-7, p. 4]

 

A maldição de Cam, um fantasma latente na memória coletiva brasileira, que por intermédio dos portugueses, defendeu-se o comércio negreiro e a cor da pele sendo sinal de condenação e fundamento para escravidão. Projetou-se ao Brasil a necessidade de trazer imigrantes brancos para assim conseguir a redenção da nação brasileira:

 

“[...] Está provado que os cruzamentos entre raças superiores dão typos superiores, e vice-versa. Assim conseguiu melhorar o typo racial a America do Norte, para onde emigraram, não os peores, mas os mais selectos, quiça, de varios paizes, em tempos de perseguições politicas e religiosas. Na Australia e na America do Sul succedeu algo semelhante; não obstante, os latinos não lograram alcançar o nivel eugenico de que se orgulham os anglo-saxões. Na America Central os hespanhoes procrearam sem nenhum criterio selectivo, dando origem a um typo de mulato inferior, que na luta contra a metropole foram os seus maiores inimigos. É evidente que podem vir de raças puras elementos melhores, e cabe uma selecção que redima paulatinamente a humanidade de taras hereditárias” [sic]. [KEHL, ano 1, n. 4, p. 2]

 

Buscou-se o imigrante imprescindível para o embranquecimento da dita “civilização brasileira”, e as características impostas pelo Brasil foram intimamente ligadas à absorção, deveriam estar interessados a construir suas vidas no país. A obra de Modesto Brocos y Gómez, pintor galego radicado no Brasil, ‘A Redenção de Cam’ de 1895, apresentada em Londres pelo médico João Baptista de Lacerda com a legenda: “Negro passando a branco, na terceira geração, por efeito do cruzamento de raças”.

Maria Luiza Tucci Carneiro apresenta as questões do governo brasileiro: “Os judeus eram acusados de promoverem a guerra, os negros, de contribuírem para o atraso do Brasil e os japoneses, de serem "inassimiláveis como enxofre", por viverem enquistados dificultando a assimilação”.

Já na década de 1930 o governo Vargas seguia a eugenia [CONSTITUIÇÃO DE 1934, art. 138, alínea b], esta pseudociência racista. Para a seleção dos imigrantes, determinados grupos eram indesejáveis pois poderiam "desfigurar" ou "desnaturalizar" a população brasileira. A partir de 16 de julho de 1934, criou-se a lei de Cotas de Imigração, estabelecia limites para entrada de estrangeiros no país; e a lei dos 2/3, com regras para número mínimo de brasileiros contratados pelo mercado de trabalho, desde fábricas, empresas e instituições públicas:

 

“Ao analisarmos a documentação referente aos registros de matrícula dos migrantes internacionais que passaram pela hospedaria no final do século XIX e início do século XX, constatamos uma enorme quantidade de italianos, seguidos por português [sic], espanhóis, alemães e outros. Os japoneses também se apresentaram como os "europeus da Ásia", também fizeram parte - ao menos nesse momento - do grupo de migrantes desejáveis”. [CARNEIRO, 2014]

 

 

‘A redenção de Cam’

Fonte: https://www.edusp.com.br/wp-content/uploads/2018/08/%E2%80%98A-Reden%C3%A7%C3%A3o-de-Cam%E2%80%99.jpg

 

No século XIX a exploração de asiáticos na América era um negócio lucrativo, denominados coolies, eram recrutados na China para contrato de trabalho de cinco anos, porém barrados a um projeto de imigração inclusivo. Na lista de passageiros do navio Kasato Maru, primeiros imigrantes japoneses destinados ao Brasil em 1908, havia instruções do secretário do consulado brasileiro em Kobe, para o governador do Estado de São Paulo:

 

“A impressão que tive desses emigrantes não foi totalmente desfavoravel, sobretudo, tendo-se em vista o typo japonez, que é de baixa estatura, de apparencia mais fraca do que forte e, em seu conjuncto, bastante feio. Os homens da ilha Riu-shiu (Okinawa), de aspecto agradavel, parecerão-me fortes e resistentes. A gente dessa parte do Japão é muito dada a agricultura, obediente e activa, e estou certo que em São Paulo esses trabalhadores serão justamente apreciados. Falam uma especie de 'patois', que os proprios japonezes teem necessidade de interpretes para se entenderem com elles. Penso que no fim de uma ou duas colheitas, V.S. poderá facilmente julgar da força e do caracter desses emigrantes, de quem, seja dito de passagem, não se deverá exigir mais de 2/3 do trabalho produsido por um emigrante branco. Os salarios, naturalmente, devem ser pagos nesta proporção” [sic]. [ARQUIVOESTADO-SP, 1908, p. 4-5]

 

Após a restauração do poder imperial Meiji em 1869, o Japão aproximou-se do ocidente, estavam se moldando ao padrão eurocêntrico de civilização, mesclando e reescrevendo as tradições japonesas. Na literatura promoveu-se amplamente o caráter de superioridade japonesa frente às outras nações asiáticas. Mark Anderson [p. 171] expõe as ideias do poeta da época, Haga Yaichi, que: “alega a superioridade japonesa [em relação] à China por afirmar que enquanto os japoneses estão entre os povos mais limpos do mundo, os chineses são sujos e foram historicamente canibais”. Em 1894 o jornalista inglês Sir Henry Norman publicou:

 

“A Coreia parece um lugar muito pobre para se batalhar. Seu povo está mergulhado na mais profunda miséria, é o pior de todos do oriente que encontram-se assolados pela pobreza…O Japão, apesar de todos seus erros, defende a luz e a civilização; suas instituições são iluminadas; suas leis, elaboradas pela justiça europeia, são iguais às melhores que conhecemos, e são administradas com justiça; suas punições são humanas; seus ideais científicos e sociológicos são os nossos próprios. A China representa a escuridão e a selvageria. Sua ciência é superstição ridícula, sua lei é bárbara, suas punições são terríveis, sua política é corrupção, seus ideais são isolamento e estagnação”. [PAINE, 2002, p. 21]

 

A visão do asiático perigoso, violento, saqueador, origina-se da tradição medieval, primeiro os Hunos, depois os Mongóis: “invadindo o país, cobrindo a face da terra como gafanhotos, eles devastaram as regiões orientais com lamentável destruição, espalhando fogo e matança aonde quer que fossem” [Tchen e Yeats, 2014, p. 91].

Final do século XIX, a metáfora racista do “perigo amarelo” sobrepujou-se pela intimidação: “em uma Europa ansiosamente dividida e militarista, a charge do Kaiser alemão Guilherme II, defendendo uma política de reação protetora civilizacional, alastrou-se como incêndio, especialmente depois que os japoneses derrotaram russos brancos em uma guerra pelo acesso à península coreana em 1904” [Tchen e Yeats, 2014, p. 124]. Um jornalista francês advertiria:

 

“O ‘perigo amarelo’ já entrou na imaginação do povo, tal como representado na famosa charge do Imperador Guilherme II: no cenário de conflagração e carnificina, hordas de japoneses e chineses espalharam-se por toda a Europa, esmagando sob seus pés as ruínas de nossas capitais e destruindo nossas civilizações, anêmicas devido ao prazer da luxúria e corrompidas pela vaidade de espírito. Assim, aos poucos surge a ideia de que mesmo que chegue um dia (e esse dia não parece próximo) em que os povos europeus deixarão de ser seus próprios inimigos e até mesmo rivais econômicos, haverá uma luta pela frente e surgirá um novo perigo, o homem amarelo. O mundo civilizado sempre se organizou ante e contra um adversário comum: para o mundo romano, era o bárbaro; para o mundo cristão, era o Islã; para o mundo de amanhã, pode muito bem ser o ‘homem amarelo’. E assim reaparece este conceito necessário, sem o qual os povos não se conhecem, assim como o ‘Eu’ só toma consciência de si mesmo em oposição ao ‘não-Eu’: o inimigo”. [Tchen e Yeats, 2014, p. 124]

 

Esta coalizão repressiva contra asiáticos, principalmente chineses, relaciona-se aos interesses colonialistas europeus, em especial da Alemanha recém unificada, no território chinês. Reinterpretar as parábolas bíblicas mirando os fiéis mais simples da esfera social tanto na Europa quanto América foi fundamental para conquistar a opinião pública:

 

“O ‘perigo amarelo’ destruiria o Cristianismo e o Judaísmo, ao estabelecer uma religião pagã do materialismo. O materialismo é a base do bolchevismo. Deus não existe, disse Karl Marx. Coisas materiais e forças materiais controlam o destino do mundo. O exército de 200 milhões de homens, descrito no Apocalipse, flui do império do ‘perigo amarelo’, que consiste em pessoas que ‘ADORAM OS DIABOS E ÍDOLOS DE OURO, E PRATA, E LATÃO, E PEDRA E DE MADEIRA: QUE NEM PODE VER, NEM OUVIR, NEM ANDAR’. Esta é a religião do ‘panteísmo’ - que nega um Deus pessoal. O panteísmo adora coisas, coisas materiais, ao invés de um Deus vivo”. [Tchen e Yeats, 2014, p. 300]

 

A campanha difamatória de periódicos sensacionalistas estigmatizando asiáticos de forma odiosa e estereotipada, esteve em voga no Ocidente desde as últimas décadas do século XIX até a década de 1930. A revista ilustrada Jolly Giant de Thistleton, apresentou em seu número 19 de 1874 a charge satirizando a evolução das espécies de forma racista a imagem do chinês:

 

TCHEN, John Kuo Wei; YEATS, Dylan (Ed.). Yellow Peril!: An archive of anti-Asian fear. Verso, 2014.

 

Nos EUA, uma série de atos legais repressivos, culminaram nas leis de restrição de imigração de 1921, Asian Exclusion Act, National Origins Act e o Johnson-Reed Act de 1924. Destinava-se limitar drasticamente imigração de grupos considerados pela eugenia "socialmente inadequados", pelo governo do republicano Calvin Coolidge, e dizia que a “América deve permanecer americana”, eram principalmente italianos e judeus:

 

“Imigrantes negros e chineses (e às vezes até recém-chegados morenos do sul e do leste da Europa que pareciam bastante brancos) eram considerados geneticamente incapazes de solidariedade de classe e, portanto, potenciais ferramentas de patrões exploradores. No sul rural, os muitos fazendeiros brancos que estavam perdendo terras e autonomia durante a longa depressão do algodão no final do século XIX se agarraram mais desesperadamente do que nunca ao status social automático que era inerente a suas peles brancas”. [FREDRICKSON, 2002, p.86]

 

O sentimento antichinês ecoou em protestos das massas contra trabalhadores coolies. Estes, muito mais baratos, substituíam o operário branco que aderia às greves. Esta modalidade foi combatida e encarada como a nova escravidão. Eram sequestrados, ludibriados e subjugados a terríveis travessias oceânicas: “o navio Dea del Mare deixou Macau em outubro de 1865 em direção a Callao, no Peru, aproximando-se do Taiti havia somente 162 emigrantes chineses vivos de um total de 550”. [THOMSON, 1873. Vol.1. Macao]

Considerações Finais

Mais de um século separam o imperador alemão Guilherme II e diversos chefes de Estado da atualidade, mas o discurso racista disfarçado de “proteção da civilização ocidental”, ainda é o mesmo. Protestos em diversas cidades pedindo “Stop asian hate!”, traz à tona um problema antigo, porém de verniz contemporâneo.

O racismo pode ser nocivo ao ponto de gestar teorias e ideologias como o fascismo italiano, alemão e japonês; a eugenia em suas raízes de exclusão, racismo e extremo preconceito ao diferente; e leis segregacionistas como o Apartheid, Jimmy Crow e Australia Branca; têm por resultados episódios brutais e devastadores, como limpeza étnica, esterilização em massa e o Holocausto.

Deve-se trabalhar incansavelmente pela defesa da igualdade entre os indivíduos, atenuando os abismos sociais e entre as nações. Assegurar possibilidades reais de participação e desenvolvimento, combater bipolarizações ideológicas e intolerantes, reparar as arestas históricas do racismo estrutural brasileiro na memória coletiva e cultivar a paz.

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”. [Declaração Universal dos Direitos Humanos].

 

Referências

Jean Carlo Lima de Moura, graduado em história pela Universidade Norte do Paraná, pós-graduando em história social e contemporânea pela Universidade Cândido Mendes.

 

ANDERSON, Mark. Japan and the Specter of Imperialism. New York: Palgrave Macmillan, 2009. p.171.

ARQUIVO Público do Estado de São Paulo. Lista de Bordo do vapor Kasato Maru. Disponível em: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uploads/acervo/textual/listas_bordo/VAP032719080430.pdf. Pág. 4-5.

BIBLIA on, Bíblia Sagrada Online. Gênesis, 9: 20- 27. Disponível em: https://www.bibliaon.com/genesis_9/.

CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Imigrantes indesejáveis. A ideologia do etiquetamento durante a Era Vargas. Disponível em: https://jornal.usp.br/revistausp/revista-usp-119-textos-8-imigrantes-indesejaveis-a-ideologia-do-etiquetamento-du­rante-a-era-vargas/.

COKE, Thomas. Versículos Comentados. Disponível em: https://versiculoscomentados.com.br/index.php/estudo-de-genesis-9-27-comentado-e-explicado/. 

DARWIN, Charles. Darwin Online, 1903, carta 204.  Disponível em: http://darwin-online.org.uk/content/frameset?viewtype=side&itemID=F1548.1&pageseq=331.

FREDRICKSON, George M. Racism: A short history. Princeton University Press, 2015. p. 56, 90.

JACOME NETO, Félix. The Fear of Social Interaction: A Historiographical Essay on Ethnocentrism and Racism in Ancient Greece. Rev. Bras. Hist., São Paulo, v. 40, n. 84, p. 21,41, ago. 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882020000200021&lng=en&nrm=iso.

KEHL, R. Boletim de Eugenia. Rio de Janeiro, ano 1, n. 4, p. 2, abril 1929. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=159808&pagfis=15.

KEHL, R. E. Boletim de Eugenia. Rio de Janeiro, ano 1, n. 6-7, p. 4, jun/jul 1929. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=159808&pagfis=25.

LEYSER, Karl. Communications and Power in Medieval Europe: The Carolingian and Ottonian Centuries. A&C Black, 1994; p. 5.

LOW, Morris (Ed.). Building a modern Japan: Science, technology, and medicine in the Meiji era and beyond. New York: Springer, 2005.

MC INERNEY, Timothy. 'The Better Sort': ideas of Race and of Nobility in Eighteenth-Century Great Britain and Ireland. 2014. Tese de Doutorado. Paris 3.

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THOMSON, John. Illustrations of China and Its People: A Series of Two Hundred Photographs, with Letterpress Descriptive of the Places and People Represented: in Four Volumes. Sampson Low, Marston, Low, and Searle, 1873. Vol.1. Macao.

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28 comentários:

  1. Boa tarde! Parabéns pelo artigo. O Oriente é pouquíssimo abordado nas escolas e até entre os professores, percebemos pouco conhecimento sobre, muitas vezes baseados em preconceitos. Como professores, como podemos utilizar as aulas para ajudar a combater esses preconceitos, quando muitas vezes o currículo ou as apostilas não dão espaço para abordar os povos orientais?

    Ana Paula Sanvido Lara

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    1. Olá Ana Paula, muitíssimo obrigado por sua participação! Eu concordo profundamente com suas afirmações e realmente nosso currículo mesmo após todo trabalho remodelando e buscando democratizar esse formato eurocêntrico, ainda continuamos na mesma, a história asiática é absolutamente desconhecida e/ou desprezada. Em minha opinião o professor deve continuar se aperfeiçoando, não depender exclusivamente do livro didático, criar projetos que abordem ou introduzam o oriente aos alunos, seja trabalhando o confucionismo que permite transmitir a ideia de humanidade, do respeito, da moral, da ética. Mas também contextualizar os alunos (com fatos importantes da História Asiática), quando estiver em conteúdos típicos europeus, como Antiguidade, Idade Média etc, é bom que os alunos observem o contraponto e se acostumem com as diferenças, sejam culturais, sociais ou econômicas. Em relação ao preconceito, como abordado em meu texto, pode-se explicar os momentos históricos através dos desdobramentos, o preconceito racial (e a escravidão), já existiam antes da eugenia, mas a eugenia permitiu haver as grandes catástrofes do século XX, essencialmente devido ao racismo.

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  2. Olá, Jean Carlo!

    Parabéns por seu competente texto.

    Acredito que o presente está cheio de passado – tal como afirma a professora Lilia Schwarcz. Nesse sentido, pergunto: é possível dizer que a sociedade brasileira, divida por uma estrutura de classes tão agressiva e ordinária, conserva a máxima do “homem superior” quando admite que nas regiões se estabeleçam cidades e nas cidades se organizem bairros nobres - a “Terra Prometida” para os “eleitos” - em detrimento dos lugares pobres e marginalizados e habitados majoritariamente por pessoas racializadas (sejam pretas ou pardas)? Quer dizer, a sociedade brasileira mudou, mas continua a mesma?

    Forte abraço!

    Antonio José de Souza

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    1. Toni, muito agradecido por sua participação! Então, sou amante dos fatos, mas se for para opinar a este respeito, eu diria que o Brasil não perdeu nem 1% de sua hierarquia aos moldes coloniais, e creio (e esta não é especificamente uma crítica à monarquia), que trocou-se apenas a nomenclatura, mas a estrutura é a mesma, a nobreza em suas torres de marfim, desde o Brasil colônia. E creio que isto que no Brasil muitos chamam de capitalismo, é um formato disfarçado da continuação da escravidão. O sistema econômico brasileiro empobrece o povo para sustentar uma gigantesca casta, seja ela política, do funcionalismo ou comercial (burguesa), quem já tem grana consegue todo tipo de benefício, seja através de tráfico de influência, propina, negócios escusos... ou seja, nunca nada disso mudou. Então, para concluir, eu discordo desse ponto abordado por ti, nada no Brasil mudou, e nossa economia, educação, saúde, etc.. também continuam na mesma, se hoje conseguimos ver avanços, é que mesmo as âncoras arrastando o Brasil para trás, o povo dando seu sangue e também devido a um efeito cascata de crescimento global, ainda conseguimos alguma coisa, em relação a melhoria. A única coisa que acho que mudou foi a hipocrisia, muitas décadas atrás se o indivíduo dissesse que tinha preconceito com determinado grupo, isso não dava nada; hoje pega mal, então mesmo os mais hipócritas destilam sua falsa adoração às pautas do momento, ainda vivendo no alto de suas torres de marfim.

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  3. As raízes da intolerência estão evidentes durante e pós pandemia. Mas, este preconceito está mais visível contra os chineses. Quando nos referimos aos japoneses, penso que hoje a situação está mais amena. Pois é comum casamentos entre japoneses-brasileiros.
    São extremamente organizado e produtivo. Admiramos a sua perseverança, organização e produtividade. Aliado a estes conceitos, e não faz muito tempo, fomos nos que invadimos o Japão em busca de oportunidades de traballho. O que se concluir deste período da nossa história. Os abismos sociais e entre as nações existem?
    Os brasileiros não deixaram de comprar o produtos fabricados pelos países asiáticos. Será que somos tão intolerantes? Nossa memõria coletiva está mudando? Não aceitamos mais episósidos brutais.

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    1. Muito obrigado por sua participação! Bem, questões sociais nunca são preto-no-branco, 8 ou 80.. é uma rede extremamente complexa de relações. O Brasil recebeu uma grande quantidade de imigrantes japoneses, estão adaptados à nossa cultura, o progresso japonês nos anos 70 e 80 foram motivos de admiração pelo brasileiros. Em relação aos chineses, esta imigração é muito recente, e desde o início se confunde ao preconceito de estereótipos seja devido ao sotaque ao falarem português, seja a memória dos produtos chineses considerados de má qualidade(quando iniciaram sua industrialização fizeram-na através do mimetismo, algo que aconteceu em vários lugares do mundo, inclusive no Japão do século XIX - mas devido a recente industrialização chinesa ainda latente na memória do brasileiro mediano), mas se consideramos este novo preconceito, nos referimos ao que foi criado pela especulação de uma intencionalidade de criação do vírus do COVID-19, no Brasil alimenta-se há décadas este medo de uma dominação comunista, medo ressignificado, como pode ser percebido em meu texto, oriundo do tal "perigo amarelo". Minha intenção com este artigo foi explorar estas ideias, inclusive não creio que o povo brasileiro seja historicamente intolerante ao asiático, pelo contrário, somos muito receptivos ao estrangeiro. Porém ainda somos um povo bastante influenciável, e gente de má índole alimenta bastante estas questões do: "nós" e os "outros". Concordo que sim, aos poucos episódios brutais serão cada vez mais repudiados, mas ainda temo a hipocrisia do like, da exposição do "parecer progressista", até que ponto é real ou dissimulado? Nunca saberemos! Quanto aos abismos sociais, sem dúvidas, estes abismos existem em todos os países do mundo, inclusive nos mais ricos. Se você um dia for à Suíça verá cara a cara estes abismos.

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    2. Já trabalhei em uma empresa Suíça. Conheço esta faceta de sermos receptivos aos estrangeiros e encontrarmos uma barreira intransponível.

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  5. Parabéns pelo excelente texto e por abordar uma temática tão interessante. Meu questionamento está relaciona as teorias raciais presentes no Brasil do século XIX e a imigração de chineses. Assim, como você entende as propostas de adoção do imigrante chinês como mão de obra em um período marcado por teorias raciais que colocavam esses indivíduos como inferiores?

    Alisson Eric de Souza Simão Pereira

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    1. Muitíssimo obrigado Alisson! Bem, quanto nos referimos ao século XIX, temos que diferir entre os primeiros chineses trazidos aos Brasil pelos portugueses em 1900 (antes das teorias racialistas) e o movimento de imigração coolie para a América, ocorrido já na segunda metade do século (e portando pautado por estas teorias). Por outro lado a eugenia, ou até mesmo o que no século XX os nazistas chamavam de untermensch, nunca foi 'mainstream' no Brasil, nosso problema como nação sempre foi o racismo contra o negro. Mas é bom ressaltar que contra os chineses já existia todo um arsenal de preconceitos no final do século XIX, seja essa crença de que era um povo sujo, ou publicações racistas em inúmeros periódicos ocidentais, que claramente influenciaram a opinião pública da virada do século e das primeiras décadas do século XX. Outra circunstância que é bom deixar claro é que estamos falando de uma outra época, devemos pensar numa época onde não havia 'Direitos Humanos', época anterior ao Holocausto, ou seja, uma época que o nacional tinha preconceito praticamente com todo estrangeiro pobre que se acumulavam nos cortiços do Rio e São Paulo e que abarrotavam as ruas à procura de trabalho, mas bom deixar claro que nesta época os chineses vinham ao Brasil já com contratos de 5 anos, para fazendas específicas de café, porém não duvido que o tratamento haveria de ser diferente ao empregado aos negros e até mesmo aos italianos quando chegaram e tiveram que aguentar regimes de trabalho absurdos, racismo e preconceito com certeza entra pra esta conta.

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  6. Muito bom o artigo e esclarecedor. Heron L. R.

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  7. Parabéns pelo texto Jean.
    Algumas considerações:
    A "marca de Cam" ou "maldição de Noé" foi um dos elementos usados para justificar a superioridade da religião do europeu ocidental durante o medievo. O uso literal do texto bíblico para justificar a escravidão dos não europeus me incomoda, afinal durante o medievo a escravidão de europeus não deixou de existir apesar de ter perdido relevância para a servidão. Com a modernidade o debate travado pela igreja sobre a possibilidade do indígena ser escravizando ou não, tem, como pano de fundo, a negação, ou não, da "maldição de Noé" como justificativa para escravidão. A "guerra justa", recuperada do medievo, se justificaria pela negação da divindade cristã e não por sua origem. No mesmo sentido se explica a tentativa, ingênua, de Luis IX, de enviar Guilherme de Ruysbroeck para Pequim, em 1253, para converter Batu Cã, e depois, convencê-lo a juntar-se ao monarca europeu na luta contra os infiéis na cruzada. Fui longe? O que você acha?

    João Marcos Barbosa Marinho

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    1. Obrigado pela participação João Marcos! Pois então, eu gostaria de esclarecer que minhas asserções não tiveram por pretensão generalizar ou criar conclusões, na realidade a limitação das 3000 palavras para este evento me permitiu buscar elementos, mesmo que pincelados, que enriquecessem este diálogo, mas entendo que interprete conclusões divergentes. Veja, eu não utilizei o texto bíblico como justificativa, e sim como recurso narrativo e explicativo para o desenrolar de outros fatos, este texto não nega outras formas de escravidão, seja muçulmana na Europa, seja cristã ou negra no mundo árabe medieval. Na realidade eu não acho que tenha ido "longe", mas sim elencado pontos aos quais estão fora da ótica do meu estudo.

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  8. Boa tarde Jean. Parabéns pelo texto. Nele você cita "Maria Luiza Tucci Carneiro apresenta as questões do governo brasileiro: “Os judeus eram acusados de promoverem a guerra, os negros, de contribuírem para o atraso do Brasil e os japoneses, de serem "inassimiláveis como enxofre", por viverem enquistados dificultando a assimilação”. Fora esse texto, você teve acesso a alguma outra fonte que demonstre a discriminação do imigrante asiático em relação à outros?

    Obrigado.

    Jackson Alexsandro Peres

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    1. Olá Jackson, muito obrigado por sua participação! O livro 'Yellow Peril', (Perigo Amarelo) de John Kuo Wei Chen e Dylan Yeats é o melhor exemplo de como o ocidente combateu o oriental e as levas de imigrantes, principalmente dos coolies chineses. Bem, para mim não ficou claro se estas fontes que você se refere estão relacionadas a discriminação no Brasil ou em outros países americanos, mas no meu próprio texto você pode encontrar o trecho da lista de bordo do vapor Kasato Maru, claramente as autoridades brasileiras da época tinham uma imagem negativa cheia de preconceito e estereótipos em relação (nesse caso aos japoneses), mas também de modo geral aos asiáticos.

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  10. Boa noite. Excelente seu trabalho. Graças a vinda de povos de vários países que hoje mais temos um pais multicultural. Porém esta aversão ao outro existe entre todas as etnias. Num estudo realizado por mim, pude identificar a rivalidade histórica presente entre descendentes de poloneses e ucranianos aqui no Brasil, os quais ainda alimentam o ódio devido ao período de dominação dos poloneses no território ucraniano. Infelizmente o passado ainda encontra-se muito presente em nossa sociedade e a aversão ao povo negro infelizmente vai permanecer por muito tempo, sendo que os mesmos eram e são vistos ainda como povos que causaram um atraso no desenvolvimento do país, porém, poucos entendem que foram os negros que mais batalharam para que o inicio da economia e o desenvolvimento do nosso pais acontecesse. O que gerou o atraso no desenvolvimento do pais, foi a exploração da riqueza e do solo brasileiro pelos portugueses.

    Inês Valéria Antoczecen

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    1. Muito boa noite e muitíssimo obrigado Inês! Concordo plenamente contigo e são máculas importantes de serem problematizadas e refletidas para assim com o tempo conseguirmos extingui-las. Em relação a exploração, toda a América foi muito explorada e nós como americanos temos sentimento negativo e reflexivo, mas já conversei com muitos portugueses, eles enxergam por outro prisma este contexto, de que o Brasil e outras colônias eram partes de Portugal e devido a isto estavam explorando o próprio país. Creio que num contexto global é um assunto que ainda deve ser muito discutido e amadurecido, inclusive para também não alimentarmos hostilidades ao povo português no presente. E se possível compartilhe conosco seu trabalho(se já estiver completo), haja vista que é um assunto bastante interessante.

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  11. É muito interessante a forma como você mobiliza a documentação para mostrar a permanência do preconceito ao longo da história. O questionamento que gostaria de fazer diz respeito à historicidade do racismo, pois ele parece uma constante atemporal que vai da antiguidade aos dias atuais. Quais as diferenças entre os preconceitos praticados por cristãos, gregos e romanos e os preconceitos contemporâneos? Talvez o caminho mais interessante para o desenvolvimento de sua pesquisa seja pensar a questão não como uma permanência ao longo do tempo, mas como as referências clássicas e bíblicas são mobilizadas nas representações do século 19 e início do 20.

    Parabéns pelo texto e pela temática escolhida, importantíssima nos dias atuais.
    Carlos Eduardo Martins Torcato

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    1. Muito obrigado pela participação e pelas recomendações Carlos Eduardo.

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  12. Parabéns pelo trabalho Jean! Boa noite. Nós podemos estabelecer conexões entre o racismo presente no Brasil do século XIX e a imigração chinesa e a xenofobia presente no Brasil do século XXI em relação a China após o início da pandemia da Covid-19?

    Att.

    Maurício José Quaresma Silva

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    1. Obrigado por sua participação Maurício! Acredito que são contextos muito diferentes. Enquanto vivemos um momento de bipolaridade ideológica, do acirramento no conservadorismo e ressurgindo a ideia de patriotismo e luta contra o diferente; A China representa esse diferente da atualidade, seja etnicamente, politicamente, culturalmente e foi alimentado no ocidente este medo do "homem amarelo", o tal 'perigo amarelo'; a China é gigante em inúmeros aspectos e isso por si só desperta medo em uma parcela significativa do povo brasileiro. Internacionalmente grupos conservadores antes de qualquer coisa acusaram a China e seu povo recebeu esta sentença de culpa. Estamos em um momento de explosão da informação descentralizada, gerando todo tipo de repercussão desde memes a fake news e ao ódio escancarado simples e puro. Vejo que no século XIX as ciências buscavam justificar diferenças raciais, elevando umas e rebaixando outras, a própria mídia disseminou este pensamento, acreditando defender o ocidente. No século XIX vejo ser o choque do contato, início de uma imigração moderna de grande escala, na atualidade é uma agenda política. O que consigo enxergar entre estes dois momentos é o reaparecimento do antigo "nós e os outros", e nesse bojo estão incluídos racismo e xenofobia.

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  13. Levando em consideração que a História Oriental, apesar de rica e abrangente quanto ao conhecimento, é pouco abordada nos currículos e propostas pedagógicas e quando mencionadas apresentam-se bastante distanciadas da História da América ou da História como um todo. Desta forma, como podemos suprir essa carência em nossas aulas, considerando a importância da História Oriental? É possível aproximar tal conhecimento da nossa realidade e de que forma pode ser feito?

    LUANA KULICZ

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    1. Obrigado pela participação Luana. Então, tanto a História Asiática, Africana e Indígena, carecem de robustez historiográfica no Brasil, creio que seja necessário o professor se aperfeiçoar, não apenas esperar que o currículo um dia se torne adequado, e participação em eventos como este com certeza é um bom começo. Trabalhar com a problematização, contextualizar, e formular projetos que incluam estas pautas. Pode-se mostrar aos alunos os desdobramentos de mudanças climáticas para o surgimento da migração de populações como ocorrera com os Hunos e séculos depois com os mongóis (não apenas apresentar o esfacelamento do império romano como se os chamados "bárbaros" tivessem brotado do nada). Enquanto estudamos a era medieval há o surgimento de uma época de ouro para o mundo árabe, pode-se explorar as rotas comerciais como a rota da seda, da rota transaariana ao Sahel; incluindo o disposto pela lei 10.6390/03, apresentando os poderosos reinos africanos da época como foi o caso de Mansa Musa. Enfim, o que não falta são estratégias, concordo que tais temas não possuem uma estruturação categorizada e substancial como os tópicos de história tipicamente europeia, mas incluindo diálogos, projetos, brincadeiras, vídeos, imagens e inúmeros outros recursos que enriqueçam o ensino de história esta distância como mencionado por ti, com certeza será cada vez menor.

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