Gabriela Maria Teodósio

 HATSHEPSUT: DOS OBELISCOS EM KARNAK PARA AS AULAS DE HISTÓRIA


Um dos desafios para o Ensino de História Antiga é a falta de familiaridade das/es/os discentes com as fontes e o distanciamento espaço-temporal com o período estudado. Tendo em vista esses problemas, nas aulas que abordam o Egito Antigo, com o objetivo de chamar a atenção do alunado, realizamos a adaptação da tradução do discurso de Hatshepsut nos obeliscos em Karnak, utilizando a tradução feita por Bakos [2012, p. 30-32]. Para a execução da adaptação aderi como base às três etapas metodológicas “focar, simplificar e apresentar” [WINEBURG, Sam; MARTIN, Daisy. 2009]

No Egito Antigo a realeza estava diretamente ligada ao sagrado, as e os governantes dedicavam parte do seu governo a ordenar a edificação de monumentos de diversas funcionalidades e era corriqueiro que esses monumentos possuíssem inscritos narrando os feitos da pessoa que ocupasse o trono.

Por já desenvolvermos uma pesquisa que analisa o governo de Hatshepsut, faraona (termo criado para se referir a Hatshepsut, por ter sido a primeira mulher a governar com plenos poderes o Egito) da XVIII° dinastia, escolhemos trabalhar com as inscrições presentes nos obeliscos erguidos em Karnak. Através dessa fonte é possível trabalhar várias questões acerca do Egito Antigo, entre elas: o politeísmo, a relação rei-sagrado, preocupação com a posteridade, a religiosidade como ditadora de comportamentos, relações com os estrangeiros e etc.

 

Adaptação da fonte

Passei a desenvolver a prática de adaptação de fontes históricas após cursar o componente curricular de Prática V, ministrada pelo o Prof. Dr. Renan Birro, que nos instigou durante a disciplina a facilitar o acesso das/es/os estudantes as várias fontes históricas, instigando o alunado a interagir com a História, com o intuito de romper com a visão que a História seria apenas uma disciplina estática, que estuda o passado e que deve ser decorada pelas/es/os estudantes.

 

A fonte escolhida para a adaptação foi traduzida para o português no capítulo “O Obelisco de Hatshepsut: suporte e imagens de poder” [Bakos, 2012, p. 30-32]

 

“Eu fiz essa doação com um coração cheio de amor por meu pai Amun;

Iniciada em seus ocultos começos,

Informada com seu benéfico poder,

Eu não esqueci qualquer coisa que ele ordenou.

Minha majestade conhece sua divindade,

Eu ajo segundo o seu comando;

É ele quem me guia,

Eu não planejo nenhum trabalho sem sua execução.

É ele quem me dá todas as direções,

Eu não dormi por causa de seu templo,

Eu não extraviei do que ele comandou,

Meu coração era Sia (a personificação do conhecimento) diante dele.

Eu entrei nos planos de seu coração.

Eu não dei as costas para a cidade do Senhor de Tudo

Melhor eu voltei minha face para ela.

Eu sei que Ipet-Sut é o lugar de luz na terra,

A montanha majestosa dos inícios.

O olho sagrado do Senhor de Tudo,

O seu lugar favorito que gera a sua beleza,

Que reúne os seus seguidores.

 

E é o rei ele mesmo quem diz:

Eu declaro perante o povo quem serei no futuro,

Quem observará o monumento eu fiz para o meu pai,

Quem participar na discussão,

Quem olhar para a posteridade –

Isto foi quando sentei no meu palácio,

E pensei em meu criador,

Que meu coração me levou a fazer para ele

Dois obeliscos de eletro,

Cujo cume atingiria o céu,

Em majestoso hall de colunas,

Entre dois grandes portais do rei,

O Touro forte, Rei Aakherkare, o Horus triunfante.

Agora me coração volta-se para cá e para lá,

Pensando o que o povo dirá,

Aqueles que verão o meu monumento depois de anos,

E falarão sobre o que eu fiz.

Acautelem-se de dizer, “Eu nada sei, Eu nada sei:

Porque isto foi feito?

Para moldar uma montanha de ouro,

Como alguma coisa que merecidamente aconteceu”

Eu juro, como eu sou amada de Re,

Como Amun, meu pai, me favoreceu,

Como minhas narinas estão refrescadas com vida e domínio,

Como eu uso a coroa branca,

Como apareço com a coroa vermelha;

Como os dois senhores repartiram suas porções para mim,

Como eu governo esta terra como o filho de Isis.

Como eu sou poderosa como filho de Isis,

Como eu sou poderosa como filho de Nut,

Como Ra descansa no barco noturno,

Como ele predomina no barco matinal,

Como ele associa suas duas mães no barco divino,

Como o céu suporta, e sua criação perdura,

Eu serei eterna como uma imperecível estrela,

Eu descansarei na vida como Atum –

Assim como em relação a esses dois grandes obeliscos,

Feitos com eletro por minha majestade por meu pai, Amun,

Em ordem que meu nome possa durar neste templo,

Para eternidade e para sempre.

 

Que alguém que ouça possa dizer, ‘É uma basófia, “O que eu disse”;

Pelo contrário dizer, “Isto é próprio dela,

Ela é devotada a seu pai!”

Veja, o deus me conhece bem,

Amun, Senhor do Trono das Duas Terras;

Ele me fez governar a Terra Preta e Terra Vermelha como recompensa,

Ninguém se rebela contra mim em todas as terras.

Todas as terras estrangeiras são submetidas a mim.

Ele colocou minhas fronteiras nos limites do céu.

O que Aton cinge trabalha para mim.

Ele deu-lhe isto que veio dele,

Sabendo disso eu vou governar por ele.

Eu sou sua filha na verdadeira verdade.

Aquele que serve ele, que sabe o que ele ordena.

Minha recompensa de meu pai é vida-estabilidade-lei.

No trono de Horus sobre todos os que vivem, eternamente, como Ra.”

[LICHTEIM, v.II, APUD BAKOS, 2012, p. 27-29]

 

Texto esse que relata alguns dos feitos de Hatshepsut enquanto faraó, seu vínculo com os deuses e sua preocupação em deixar para posteridade o registro do que fez. Para que esse escrito pudesse ser utilizado em sala de aula foi necessário que essa tradução fosse adaptada para uma linguagem mais acessível para as/es/os discentes.

Como proposto na metodologia de Wineburg e Martin [2009] a adaptação deve ser precedida de um breve resumo sobre a fonte. Devido à extensão da fonte realizamos inicialmente a redução do texto de 666 palavras para 269, pois quanto mais breve o trecho selecionado mais fácil será a leitura das/es/os estudantes. Essa etapa nos possibilitou focar na fonte e em seguida nos dedicamos a simplificar o trecho selecionado, adaptando a linguagem para a realidade das/es/os discentes, auxiliando assim no processo de compreensão do texto.

A última etapa do processo de adaptação da fonte é a apresentação, deve ser disponibilizada para o alunado em uma folha única, com “fontes largas (ao menos tamanho 16) com espaços branco amplos no topo da página” [WINEBURG, Sam; MARTIN, Daisy. 2009, p. 214]. Nesta etapa Sam Wineburg e Daisy Martin nos orientam a:

 

“1) o uso de itálicos para assinalar palavras chave e, 2) um vocabulário no final da página. Nós usamos o itálico de modo disperso, porém estratégico, para focar a atenção nas palavras que os leitores podem pular ou negligenciar.” [WINEBURG, Sam; MARTIN, Daisy. 2009, P. 215] Após seguir os processos detalhados acima segue a adaptação realizada:

 

Inscrição do obelisco de Hatshepsut em Karnak do ano 15/16 do Reino Novo

 

Hatshepsut reinou durante a XVIIIª dinastia do Reino Novo, foi a primeira mulher faraó a governar o Egito com plenos poderes. Ela conseguiu executar várias atividades que até então não haviam sido exercidas por mulheres e preocupou-se em eternizar seus feitos: Hatshepsut espalhou pelo Egito vários monumentos com inscrições de seus atos mais grandiosos. Abaixo vemos como era comum no Egito Antigo a preocupação em deixar uma mensagem para posteridade, além de oferecer uma forte ligação com os deuses.

 

Fonte adaptada

Fiz essa doação por amor a meu pai, Amon. Eu sou guiada por ele, faço tudo que ele manda. Eu não dormi para cuidar de seu templo, eu não esqueci a cidade do Senhor de Tudo, eu dei toda atenção para a cidade de Amon, pois sei que é nela o lugar de luz na terra, local do sagrado do deus Amon: esse é seu lugar favorito, é aqui que se reúnem seus seguidores.

Eu, enquanto rei, digo para o povo o que serei no futuro: quem olhar para esse monumento saberá que mandei erguer dois obeliscos decorados com ouro para o meu pai, com o topo deles alçando o céu. Agora penso no que as pessoas irão falar: elas verão meu monumento depois de anos e falarão sobre o que eu fiz. Porque isto foi feito? Para criar uma montanha em ouro, algo que aconteceu do jeito que deveria. Eu juro quesou amada por e como meu pai, o deus Amon, ajudou-me. Eu uso a coroa branca e a coroa vermelha. Sou poderosa como o filho de Ísis e como o filho de Nut; eu serei eterna como uma estrela, eu vou descansar na vida como o deus criador; que meu nome possa durar neste templo e para sempre.

Que as pessoas falem que isso é digno de mim, pois sou dedicada a meu pai: o deus me conhece e Amon me fez governar as Duas Terras. Ninguém se revolta contra mim, os estrangeiros obedecem a mim. Eu sou a verdadeira filha do deus sol; eu trabalho para ele e, como recompensa, tenho vida, estabilidade e poder.

Obelisco: Monumento de base quadrada e no topo possui forma de pirâmide

Rá: Uma das formas de se chamar o deus Sol no Egito Antigo

Amon: nome diferente para o deus Sol

Isis: deusa da fertilidade e da maternidade

Nut: deusa do céu

Duas Terras: formada pelo Alto Egito (região do vale do Nilo) e Baixo Egito (região delta do Nilo).

 

A adaptação em sala de aula

Em meio ao cenário de pandemia, o ensino remoto foi utilizado pelas escolas a fim de diminuir os impactos da Covid-19 na educação, o que possibilitou várias participações de convidadas/es/os nas aulas de uma forma mais simples, já que através da internet é possível falar para várias pessoas, mesmo que estejam a longas distâncias.

Diante dessa realidade fui convidada pelo prof. João Lemos a ministrar uma aula sobre as mulheres no Egito Antigo para a turma de 1° ano do Ensino Médio ano do Ensino Médio, dos cursos de Administração, Agropecuária, Informática e Redes de Computadores na EEEP Paulo Barbosa Leite - Caririaçu, localizada no Ceará. Aproveitei a oportunidade para apresentar incialmente uma foto do obelisco de Hatshepsut em Karnak.

 

Fonte:https://www.voyagevirtuel.com/egypt/bigphotos/luxor-karnak-802.jpg

 

Na imagem podemos verificar a fonte já em estado de degradação imposto por milênios, ao apresentar os hieróglifos as/es/os estudantes foram questionadas/es/os se “havia a possibilidade de trabalharmos com aqueles inscritos durante a aula?” A resposta geral foi que não, pois, não sabiam o que estava escrito.

Diante dessa resposta projetei no slide à adaptação descrita anteriormente, li a adaptação para a turma e após essa apresentação as/es/os discentes passaram a participar de forma mais ativa na sala. De forma geral a turma ficou mais interessada em conhecer mais da vida de Hatshepsut, dialogamos sobre como a faraona descreveu seu governo como uma bênção divina e como ela se preocupou em passar uma imagem de líder poderosa.

Um dos aspectos abordados através da figura de Hatshepsut foi como a sociedade egípcia permeava o mito e a realidade, o rei é legitimado por sua origem divina “o rei não tem apenas origem divina, ele é a expressão do próprio deus. Mais do que senhor dos exércitos ou supremo juiz, o faraó é o símbolo vivo da divindade” (PINSKY, 2020, p. 95). Como defende Frizzo (2016) a onipresença do monarca se dava através das várias representações, a figura do rei como responsável por manter o cosmo organizado e também portador da herança divina. Essa onipresença do faraó na vida dos egípcios estava ligada ao aos feixes representativos detalhados como:

 

“O primeiro feixe de representações identificava o rei como único responsável por direito ao culto dos deuses e, portanto, dono do monopólio do contato com o sobrenatural. O segundo buscava representar o faraó como líder militar e chefe, massacrando os inimigos associados ao caos. O terceiro, claramente correlacionado aos primeiros, colocava o faraó como chefe de governo e encarregado da administração do país.” (FRIZZO, 2016, p. 21-22)

 

Além disso, debatemos como era uma realidade comum no Egito Antigo à preocupação da eternização dos feitos do faraó através da dos textos-imagens presentes nos monumentos e a relação extremamente forte que ligava o faraó aos deuses.

Após a oportunidade de elaborar essa adaptação e de ministrar uma aula sobre o Egito Antigo através de aspectos do governo de Hatshepsut, percebemos como a adaptação de fontes históricas pode chamar a atenção do alunado e tornar o tema debatido em sala algo curioso para as/es/os alunos, gerando assim um debate enriquecedor entre discentes-docente.

 

Referências

Gabriela Maria Teodósio, graduanda em Licenciatura em História na UPE, pesquisadora do Leitorado Antigüo: grupo de ensino, pesquisa e extensão em História Antiga, e bolsista da Residência Pedagógica. Contato: gabriela.teodosio@upe.br

 

BAKOS, Margaret. O obelisco de Hatshepsut: suporte e imagens de poder. In: SOUZA Neto, José Maria Gomes de (Org.). Antigas Leituras: diálogos entre a história e a literatura. Recife: EDUPE, 2012.

FRIZZO, Fábio. Estado, império e exploração econômica no Egito do Reino Novo. Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. Departamento de História, Niterói, p. 401, 2016.

PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 25. Ed., 8° reimpressão. – São Paulo: Contexto, 2020.

WINEBURG, Sam; MARTIN, Daisy. Tampering with History: adapting primary sources for struggling readers. TrSocial Education 73(5), p.212-216, 2009. Trad. Renan Marques Birro (UPE).

13 comentários:

  1. Saudações Gabriela!

    Parabéns pela sua iniciativa de adaptação da inscrição do obelisco de Hatshepsut. Gostaria inclusive de pedir autorização para utilizar sua adaptação com os meus alunos. Compartilho da sua percepção de que a dificuldade de interpretar um documento pode desencorajar os alunos a realizarem esta importante e cara prática do ensino de História. Gabriela, gostaria de saber se você teria outras recomendações que julga importantes para a adaptação dos textos para alunos. Você mencionou o uso de itálico, o espaçamento e o tamanho da fonte. Contudo, haveria outros recursos que você julgaria igualmente relevantes? Gabriela, também notei que você adaptou o texto em versos para o texto em prosa. Gostaria de saber se houve alguma intencionalidade ao realizar esta adaptação.

    Obrigado pela atenção

    Henrique Bueno Bresciani

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    1. Olá, Henrique! Muito obrigada por ter lido meu texto e pelos elogios. Sinta-se a vontade para utilizar a adaptação, a intenção é que seja útil pra o máximo de pessoas possíveis.

      Coloquei o texto em prosa pra não assustar as/es/os discentes, pois quando eu era Ensino Fundamental e Ensino Médio eu fugia de textos em estrutura de versos, só pela formatação já parecia aos meus olhos como algo mais complexo e ainda faz com que o texto fique bem mais extenso, a própria metodologia de Wineburg e Martin (2009)apresenta as adaptações em prosa, adotei a mesma postura pra facilitar a leitura, tornando-a mais fluida.

      Uma prática que eu e meus colegas praticamos na Residência Pedagógica na hora das adaptações é elaborar uma adaptação com termos específicos da região das/es/os estudantes, as vezes utilizamos gírias do cotidiano (alertando que essas expressões não eram utilizadas na época, mas que estão sendo adotadas pra facilitar a compreensão). As fontes podem ser adaptadas pra animações, músicas e etc... São inúmeras as formas de adaptações, não existe maneira correta, isso vai depender do alunado que você acompanha e dos objetivos que quer alcançar.

      Espero ter esclarecido suas dúvidas, qualquer coisa pode entrar em contato comigo no e-mail gabriela.teodosio@upe.br

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  2. Parabéns pelo ótimo texto e pela bem sucedida experiência didática em sala de aula. Reparei que no texto foi utilizado o termo faraona para se referir ao reinado de Hatshepsut. Eu sempre tive dúvidas quanto ao termo para se referir às governantes femininas, o termo "rainha" parece ser mais comum. Dessa forma pergunto o seguinte:

    O termo "faraona" empregado no texto é uma criação própria e faz referência apenas à Hatshepsut ou pode ser utilizado para outras governantes (Nefertiti, Nefertari e etc)?

    Muito obrigado.

    Gabriel Dantas Martins

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    1. Olá, Gabriel! Muito obrigada por ter lido meu texto, fico feliz que tenha gostado.

      O termo "faraona" é bem recente diga-se de passagem e foi criado para se referir a Hatshepsut em específico. As outras são conhecidas como rainhas, rainhas regentes, Esposa do deus, Filha do deus, entre outras denominações. Isso se dá porque as mulheres assumiam o trono quando o rei ainda era muito jovem ou em tempos de crise (como as guerras), já Hatshepsut, passou de Filha do deus, a Esposa do deus, rainha regente e faraona, quando ela se autointitula faraó e passa a governar plenamente.

      Espero ter esclarecido suas dúvidas, qualquer coisa pode entrar em contato comigo no e-mail gabriela.teodosio@upe.br

      Att. Gabriela Teodósio.

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  3. Olá Gabriela, adorei a adaptação e também peço autorização para usar nas minhas aulas no IFPA-Altamira.

    Gostei muito dos pontos levantados no texto, e gostaria de ver como você trabalharia as questões de gênero em sala de aula utilizando a figura de Hatshepstut.

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  4. Jayza Monteiro Almeida4 de outubro de 2021 às 18:29

    Olá Gabriela, adorei a adaptação e também peço autorização para usar nas minhas aulas no IFPA-Altamira.

    Gostei muito dos pontos levantados no texto, e gostaria de ver como você trabalharia as questões de gênero em sala de aula utilizando a figura de Hatshepstut.

    Obrigada,

    Jayza Monteiro Almeida

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    1. Olá, Jayza! Muito obrigada por ter lido meu texto e pelos elogios. Sinta-se a vontade para utilizar a adaptação, a intenção é que seja útil pra o máximo de pessoas possíveis.

      Parte da complexidade da figura de Hatshepsut está presente por ela ser representada ora como mulher e ora como homem, vale lembrar que o comum na sociedade do Egito Antigo era que o faraó fosse uma figura masculina, alguns rituais/eventos só era permitido a entrada de homens e nesses casos temos Hatshepsut sendo representada na versão masculina.
      Embora ela seja uma mulher de grande destaque na História das Mulheres egípcias, tenha realizado conquistas importantes, concordo com Bakos quando ela afirma que Hatshepsut não se preocupou em lutar pelas mulheres, seria anacrônico pensar nela como uma espécie de líder feminista. Além disso, Hatshepsut sofreu o processo conhecido por "Damnatio memoriae" onde alguns teóricos afirmam ter sido movido pela vingança de Tutmósis III e outros teóricos afirmam que teria sido na intenção de restaurar a maat, para evitar que um exemplo similar ocorresse no futuro.
      No discurso machista e sexista as mulheres são inferiorizadas e por vezes são silenciadas, a história de Hatshepsut é um exemplo de uma mulher que reinou com plenos poderes no Alto e Baixo Egito, alcançou várias conquistas, deixou o poder com o império egípcio em alto grau e resistiu aos ataques a sua figura, através dessa personalidade podemos debater a importância das mulheres em vários âmbitos.

      Espero ter esclarecido suas dúvidas, qualquer coisa pode entrar em contato comigo no e-mail gabriela.teodosio@upe.br

      Att. Gabriela Teodósio.

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  5. Ana Paula Sanvido Lara5 de outubro de 2021 às 16:37

    Boa tarde! Parabéns pelo artigo.
    É possível saber o motivo dessa preocupação dos egípcios em deixar registros para as próximas gerações?

    Ana Paula Sanvido Lara

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    1. Olá, Ana! Fico feliz que tenha gostado do texto, muito obrigada por lê-lo e dar seu feedback.

      Nos textos em que eu tive acesso não tem nenhuma fonte em que um egípcio deixe explicado o motivo específico para esses registros, mas ao ler os inscritos do obelisco de Hatshepsut podemos ver que é dito:

      "Sou poderosa como o filho de Ísis e como o filho de Nut; eu serei eterna como uma estrela, eu vou descansar na vida como o deus criador; que meu nome possa durar neste templo e para sempre."

      Esse trecho nos mostra que Hatshepsut se importava em ser eterna, o que é comum em inscritos de outros faraós também. Os egípcios acreditavam em vida pós morte, caso fossem absolvidos no julgamento de Anúbis a/o morta/o viveria para sempre ao lado dos deuses e para a vida mundana ficaria apenas a eternização de seus feitos, acredito que o intuito seja dar continuidade a tradição e tentar "manter-se viva" mesmo após a morte, seria o caso de manter viva a memória. Essa ideia de fugir do esquecimento é mais detalhada no livro "A alegoria do patrimônio" de Fronçoise Choay.

      Espero ter esclarecido suas dúvidas, qualquer coisa pode entrar em contato comigo no e-mail gabriela.teodosio@upe.br

      Att. Gabriela Teodósio.

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  6. Parabéns, texto excelente, gostaria de saber qual seria sua proposta para um trabalho com alunos do 6º ano, aonde trabalhamos sobre o Egito antigo?

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    1. Olá! Muito obrigada por ter se disponibilizado a ler, fico muito feliz que tenha gostado do texto.

      Dentro da adaptação você pode ver que vários deuses são citados, nesse quesito poderia ser abordado o politeísmo, Hatshepsut se coloca como família/protegida/abençoada pelos deuses o que abre espaço para o debate de como a ligação com os deuses era extremamente forte nessa época.

      Na adaptação o trecho "Amon me fez governar as Duas Terras. Ninguém se revolta contra mim, os estrangeiros obedecem a mim." cabe explicar como funcionava a divisão do Egito em Duas Terras, dialogar sobre os períodos de grandes conflitos com os estrangeiros, abordar os Períodos Intermediários entre os Reinos e outras várias temáticas possíveis.

      Espero ter esclarecido suas dúvidas, qualquer coisa pode entrar em contato comigo no e-mail gabriela.teodosio@upe.br

      Att. Gabriela Teodósio.

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