Edelson Geraldo Gonçalves

DISCUTINDO O CONCEITO DE ORIENTALISMO ATRAVÉS DO FILME “O ÚLTIMO SAMURAI” (2003)

 

Introdução

Como afirmou Bruce Mazlish, a modernização do mundo foi iniciada pelo Ocidente, mas a globalização está sendo feita por toda a humanidade, “criando uma nova civilização” [1998, p. 392], e, com isso, desde o século XX, é notória a importância dos países asiáticos na política, economia e cultura globais, havendo a perspectiva de que o atual século será um “século asiático”, um horizonte que já vinha sendo imaginado à algumas décadas, quando se projetou inicialmente o Japão como primeira potência [Henshall, 2008, p. 228], e no início do século XXI esta expectativa está colocada sobre a China.

Neste cenário torna-se importante o conhecimento, cultivado desde os níveis fundamental e médio, das histórias das culturas asiáticas, e notadamente o reconhecimento das noções orientalistas [segundo o conceito de Edward Said] que ainda perpassam o imaginário ocidental sobre estes povos, inclusive levando a manifestações preconceituosas da opinião pública ocidental em relação a estes povos.

Tais manifestações, que mudam seu alvo segundo o momento histórico, se voltam principalmente contra povos colocados como antagonistas dos EUA ao longo dos séculos XX e XXI [japoneses, norte-coreanos, vietnamitas, iranianos, árabes, e atualmente, os chineses], e que são considerados inimigos por grande parte das populações do Ocidente em função do peso da hegemonia cultural e político-econômica estadunidense, em outras palavras, devido ao “soft power” e o “hard power” deste país, segundo os termos de Joseph Nye Jr [2004].

Contudo, os materiais didáticos formais disponíveis para a abordagem da Ásia e do conceito de orientalismo são ainda incipientes, o que demanda que outros recusos sejam utilizados. Logo, para isso, o cinema é uma boa opção como material de referência.

Na qualidade de uma vertente da “história pública”, ou seja, uma das modalidades pelas quais o conhecimento histórico pode ser franqueado a todos [Albieri, 2011, p. 19], o cinema de ficção histórica é uma excelente referência para ser abordada e analisada.

Com isso em mente, sugerimos aqui o uso do filme “O Último Samurai” [“The Last Samurai”], de 2003, dirigido por Edward Zwick [1952], e estrelado por Tom Cruise [1962], embora o personagem a que se refere o título da produção seja interpretado por Ken Watanabe [1959].

Através deste filme é possível a abordagem de temas históricos do Japão da Era Meiji, assim como o trabalho com os elementos orientalistas contidos na obra.    

     

A Era Meiji

A Era Meiji, contexto histórico no qual o filme “O Último Samurai” é ambientado, se inicia com a Restauração Meiji, em 1868, quando foi finalizado o Xogunato Tokugawa, e o poder político sobre o Japão foi formalmente devolvido ao Imperador após séculos de domínio dos xoguns [mais precisamente desde 1192].

Com isso, o Japão iniciou seu processo de modernização, com a industrialização e reformas políticas, econômicas e sociais.

Neste momento o Japão buscou mostrar que estava se “civilizando”, segundo o ponto de vista das potências do Ocidente, adotando práticas ocidentalizantes, tanto para a suprimir os costumes tradicionais do país, quanto para conformar suas estruturas econômicas e de governo aos padrões considerados respeitáveis pelas grandes potências daquele momento [Gluck, 2015, p. 570, Sansom, 1951, p. 378].

Para tanto, o país investiu fortemente na educação de seus jovens e na capacitação de seus profissionais, e para isso, não apenas enviou estudantes e profissionais nipônicos para se aperfeiçoarem na Europa e EUA, como também contratou muitos especialistas ocidentais das mais variadas áreas para instruir os japoneses e ajudar no processo de modernização do país [Gordon, 2003, p. 73].

A reabertura do Japão, em 1853, e seu processo de modernização, sobretudo após a restauração Meiji, também atraíram muitos estudiosos ocidentais, dispostos a compreender a cultura japonesa. Estes orientalistas, também conhecidos como japonologistas, podem ser exemplificados por indivíduos como A.B. Mitford [1837-1916], Basil Hall Chamberlain [1850-1935] e Lafcadio Hearn [1850-1904] [Gonçalves, 2017, p. 116-117].

Esta foi a primeira fase da modernização Meiji, guiada pelo lema “Bunmei-Kaika” [“Civilização e Iluminismo”], e que foi hegemônica até a década de 1880 [Pyle, 2008, p. 674-681], período não alcançado pelo contexto histórico do filme que aqui abordamos.

Neste cenário, um ponto relevante para os temas aqui abordados, é o processo de dessamuraização feito no país, com a abolição dos antigos estamentos sociais do período Tokugawa [guerreiros, camponeses, artesãos, comerciantes e párias], e a consequente retirada do poder dos samurais. Juntamente a isso ocorreu a adoção do sistema de conscrição para a formação das modernas forças armadas do país, incorporando sobretudo o campesinato em suas fileiras [Benesch, 2014, p. 37-38; Gordon, 2003, p. 66].

Dessa forma, os samurais [ou agora mais precisamente shizoku, ex-samurais] perderam seu monopólio sobre a atividade militar, e, nos muitos casos em que não conseguiram se adaptar à nova sociedade, ou se decepcionaram com ela, se revoltaram contra o governo [Gordon, 2003, p. 65].

A maior e mais famosa das revoltas promovidas pelos ex-samurais foi a “Revolta de Satsuma”, também conhecida como “Guerra Seinan” [“Guerra do Sudoeste”], ocorrida em 1877, e liderada por Saigo Takamori.

Este conflito se iniciou após Saigo renunciar a seu cargo no governo Meiji, em 1873, por razão da recusa por parte dos outros oligarcas de seu plano de invadir a Coréia, o que ele imaginava poder criar um objetivo capaz de conter a revolta da explosiva camada dos ex-samurais [Gordon, 2003, p. 74].   

Após sua demissão, Saigo se retirou para sua terra natal, Satsuma, onde se dedicou a oferecer uma educação samurai tradicional à sua população, e em 1877 decidiu marchar com seus combatentes até Tóquio, com o objetivo de depor os oligarcas que cercavam o Imperador e estabelecer um governo que ele julgava representar os verdadeiros interesses do povo japonês. Contudo suas tropas foram interceptadas e derrotadas pelo moderno Exército Imperial [Gordon, 2003, p. 86-87].           

 

O Último Samurai

O enredo do filme “O Último Samurai”, ambientado nos anos de 1876 e 1877, se inicia quando o Capitão Nathan Algren [Tom Cruise], um veterano das Guerras Indígenas nos Estados Unidos [1609-1924], é convidado pelo governo japonês, por intermédio do político e industrialista Omura Matsue [Harada Masato], a ir ao país atuar como conselheiro no treinamento do exército moderno que estava em formação, além de ter a missão de liderar a repressão da rebelião iniciada pelo líder samurai Katsumoto Moritsugu [Ken Watanabe], um professor do Imperador Meiji, descontente com os rumos da modernização no Japão.

Após ser enviado para combater o exército de Katsumoto mesmo com tropas ainda despreparadas, Algren é capturado pelos samurais, e levado como refém às terras dominadas pelo líder guerreiro. Lá o soldado estadunidense conhece de perto a cultura tradicional do Japão, e desenvolve um forte laço de amizade e amor com Katsumoto e seus seguidores, lutando ao lado deles na batalha final contra o agora preparado Exército Imperial moderno.

Apesar da bravura que demonstraram em combate, a batalha termina em derrota para os samurais e o suicídio de Katsumoto, por seppuku.

Ao final, frente a Algren, e comovido pelo sacrifício de seu professor, o Imperador Meiji diz aos membros de sua corte, e representantes estrangeiros: “Eu tenho sonhado com um Japão unificado, com um país forte, independente e moderno. E agora, nós temos ferrovias, canhões e roupas ocidentais. Mas, nós não podemos esquecer quem somos, ou de onde nós viemos”.

Com isso o Imperador expressa o ideal de que apesar da modernização, o Japão deveria preservar a sua essência.

Podemos ver que a trama do filme gira em torno da modernização promovida pelo governo Meiji e os atritos que este cenário gerou. Dessa forma, o filme apresenta os elementos básicos das mudanças ocorridas no Japão com a modernização, como a dessamuraização [representada principalmente pelo sistema de conscrição], e também a forte presença ocidental durante esse processo, com a representação dos especialistas estrangeiros, dos quais Algren é um exemplo, e os japonologistas, aqui representados pelo personagem Simon Graham [Timothy Spall], o estudioso, tradutor e fotógrafo que trabalhou junto a Algren. 

Ainda nesse ponto, outro tema levantado é o próprio processo de modernização, colocada no filme em uma dicotomia de tradição contra modernidade, ou nas palavras do japonologista Simon Graham, quando recebeu o Capitão Algren quando chegou ao Japão: “O Imperador adora tudo que é ocidental, e os samurais acreditam que tudo está mudando rápido demais. É como se o antigo e o moderno lutassem pela alma do Japão”.

O outro tema do filme, a rebelião de Katsumoto, é uma representação que sintetiza o choque entre a modernização Meiji e os ex-samurais insatisfeitos, inspirada principalmente na Revolta de Satsuma, sendo o personagem Katsumoto baseado em Saigo Takamori, o histórico líder desse levante. 

 

A Presença do Orientalismo  

Trabalhamos aqui com o conceito de orientalismo de Edward Said [2008] em seu aspecto essencial da representação do Oriente como uma criação do Ocidente, ou no caso do orientalismo presente no filme de Edward Zwick, a partir da apropriação de um antigo imaginário idealizado do passado samurai, especificamente a forma como estes guerreiros foram retratados no período do Japão Imperial [Chun, 2011], mais precisamente entre a década de 1890 e o ano de 1945.

Esta visão romantizada dos samurais, como seguidores de um código de honra [o “bushido” ou “caminho do guerreiro”] que guiaria todo este estamento social [com base em sete virtudes: justiça, coragem, benevolência, polidez, sinceridade, honra e lealdade] [Nitobe, 2005, p. 22-67] desde o seu surgimento, foi cristalizada a partir da publicação do livro “Bushido”, de Nitobe Inazo [1862-1933], em 1899 [Turnbull, 2006b, p. 154].

Este livro foi escrito e publicado originalmente em inglês, nos EUA, visando apresentar uma imagem positiva da cultura japonesa para um público ocidental, sendo repleto de tradições inventadas, que foram convincentes não apenas para o público estadunidense, mas também para os japoneses.

Estas tradições inventadas, práticas pretensamente baseadas no passado e continuamente empregadas com o objetivo de inculcar valores e normas, segundo a definição de Eric Hobsbawm [2002, p. 9], criadas no Japão Imperial, e presentes no filme de Zwick, geraram o que Jayson Chun [2011, p. 19, 28] considera uma curiosa forma de orientalismo, na qual uma produção ocidental se apoderou de uma visão idealizada dos samurais criada pelos próprios japoneses, e que seus próprios cineastas hesitam em empregar atualmente.    

Dessa forma, podemos constatar, na trama do filme, a influência de uma concepção orientalista; ou mais especificamente auto-orientalista, pois produzida originalmente no Ocidente e para o Ocidente, apesar da autoria de um japonês, como define Harumi Befu [apud Morais, 2019, p. 94], ao se referir ao orientalismo que passa a influenciar os próprios orientais em suas auto-representações.

Esta concepção sobre os samurais, que teve extrema influência sobre o imaginário ocidental, e foi por sua vez representada em um filme hollywoodiano de ampla audiência global, o que certamente contribui para a perpetuação de tais mitos.

Feitas estas considerações, nos concentraremos agora em dois mitos orientalistas sobre os samurais [embora outras representações orientalistas dos samurais e do próprio Japão certamente possam ser encontradas na obra], desenvolvidos no período imperial, importantes na imagem destes guerreiros apresentada no filme de Zwick. O primeiro é o próprio bushido, não meramente na concepção original de Nitobe, mas em seu aspecto de culto à morte honrada, desenvolvido posteriormente. Por sua vez, o segundo, é o repúdio tradicional dos samurais às armas de fogo.

O primeiro mito, no filme expresso por Katsumoto em momentos como o de seu comentário a Algren sobre o massacre que ceifou a vida do Tenente-coronel George Armstong Custer [1839-1976], em Little Bighorn [1876], no qual afirma que ele teve “uma morte muito boa”, e principalmente em sua investida final contra o Exército Imperial.

Em seu diálogo com o personagem de Tom Cruise, observando as flores de cerejeira nos jardins de seu castelo, Katsumoto faz uma definição do bushido neste sentido, ao dizer: “Assim como estas flores, todos nós estamos morrendo. Viver a vida em cada respiração, em cada xícara de chá, em cada vida que tiramos. O caminho do guerreiro”.

Estes ideais, de viver cada momento como se fosse o último, ou mais precisamente “dia após dia, preparar-se para a morte” [Yamamoto, 2004, p. 98] e da busca de uma boa morte em combate foram inseridos no imaginário japonês sobre o passado samurai na década de 1930, quando o livro “Hagakure”, escrito por Yamamoto Tsunetomo no século XVIII, foi propagandeado pelas autoridade japonesas, e popularizado, como uma legítima fonte para o código de conduta dos samurais, e que conteria valores por eles praticados desde sua origem. Contudo, historicamente, o conteúdo desse livro era meramente um aconselhamento voltado para os samurais do domínio de Nabeshima, no sul do Japão, jamais ganhando notoriedade além de suas fronteiras antes da modernidade [Benesch, 2014, p. 16-17, 199].

Juntamente à ideia de que o ethos dos samurais seria historicamente a moral dos japoneses, com o argumento de que, “o sistema ético que primeiro iluminou a ordem militar, arrastou, com o tempo, seguidores entre as massas” [Nitobe, 2005, p. 106], propagada desde a Era Meiji com base na obra de Nitobe, somou-se então esta ideia da disposição à morte a qualquer momento como um ideal que todo japonês deveria observar. Um artifício de um governo que se militarizava, para implantar na população a disposição ao sacrifício pela nação nas guerras que se iniciavam.

O segundo mito, do repúdio ao uso de armas de fogo por parte dos samurais, aqui representado na escolha de Katsumoto de não empregar tais armas em seu exército, nas palavras de um dos personagens do filme, o japonologista Simon Graham, “Katsumoto não se desonra mais usando armas de fogo” e “Para aqueles que honram os velhos costumes, Katsumoto é um herói”. Esta é uma romantização extrema do repúdio dos samurais pela modernidade, considerando tais armas como componentes da ocidentalização que a acompanharia.

Atitude semelhante não se observou na Revolta de Satsuma, evento histórico que inspirou a rebelião de Katsumoto, apresentada no filme. Em 1877 os guerreiros de Saigo empregaram armas de fogo contra as tropas imperiais [Turnbull, 2006, p. 193] [assim como os samurais em geral o faziam desde o século XVI] [Keegan, 2006, p. 70-72], embora desde pouco depois da revolta, tal mito já fosse cultivado [Turnbull, 2006, p. 192-193].

Uma atitude semelhante à de Katsumoto historicamente pode ser encontrada em um evento bem menor, a “Revolta dos Shinpuren” em 1876, na qual seus poucos membros atacaram uma guarnição do Exército Imperial, apenas com armas tradicionais dos samurais [Keene, 2002, p. 264-266]. Logo, o filme retrata a atitude no máximo admitida por uma ínfima minoria extremista, como um comportamento razoável para o estamento dos samurais como um todo.     

 

Conclusão

Podemos concluir que o filme “O Último Samurai” de Edward Zwick, traz uma representação orientalista dos samurais, baseada em um amplo resgate de tradições inventadas cultivadas pelo Japão Imperial, várias décadas antes da estréia do filme.

Através de mitos como o do bushido como um culto à morte honrada, e o repúdio dos samurais pelas armas de fogo, o filme apresenta um Oriente construído pelo Ocidente [ou poderíamos dizer reconstruído], com base em velhos mitos, de origem política ou auto-orientalista, certamente contribuindo para a perpetuação desta visão orientalista. 

              

Referências

Edelson Geraldo Gonçalves é Doutor em História Social das Relações Políticas pela UFES e atualmente Pós-Doutorando pela mesma instituição, bolsista PROFIX/FAPES. 

Mail: edelsongeraldo@yahoo.com.br

 

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BENESCH, Oleg. Inventing the Way of Samurai: Nationalism, Internationalism
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CHUN, Jayson. Learning Bushido from Abroad: Japanese Reactions to the Last Samurai, International Journal of Asia Pacific Studies, Penang, Vol 7, Nº 3, 2011, p. 19-34. Disponível em https://ijaps.usm.my/?page_id=566 Acesso em: 03/05/2021.     

GLUCK, Carol. Japan’s Modernities. In: EMBREE, Ainslie. T; GLUCK, Carol (Org.). Asia in Western and World History. Nova York: ME Sharpe, 2015. p. 561-593.

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YAMAMOTO, Tsunetomo. Hagakure: O Livro do Samurai. São Paulo: Conrad, 2004.

21 comentários:

  1. Na abordagem de Edward Said, o oriente construído pelo Ocidente. A sua contempla a ideia do construtivismo da visão ocidental sobre o oriente pelas telas de cinema, como é dada a referencia como exemplo os filmes chineses de Bruce Lee, que se constroem a ideia da China das artes marciais. Nesse contexto se constroem fabulas, e visões distorcidas sobre o Oriente construindo estereótipos sobre AS CIVILIZAÇÃO ORIENTAIS. Assim Edelson seu trabalho contempla essa discussão da real e do irreal apresentadas pelo cinema Norte Americano como este Filme O ultimo Samurai. Parabenizo pela reflexão.
    ELOIS ALEXANDRE DE PAULA

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    1. Fico agradecido Elois. Obrigado pela leitura.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  2. Boa noite, parabenizo o autor Edelson Geraldo Gonçalves, pelo trabalho denominado “discutindo o conceito de orientalismo através do filme “o último samurai” (2003)” que traz uma abordagem, na qual a Era Meiji, contexto histórico no qual o filme “O Último Samurai” é ambientado, se inicia com a Restauração Meiji, em 1868, quando foi finalizado o Xogunato Tokugawa, e o poder político sobre o Japão foi formalmente devolvido ao Imperador após séculos de domínio dos xoguns [mais precisamente desde 1192]. Assina Francielcio Silva da Costa.

    De que forma o conceito de orientalismo é expresso no filme “o último samurai”?

    Por que o filme “o último samurai” é ambientado no contexto histórico da Era Meiji ?

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    1. Obrigado pela leitura Francielcio.

      O conceito de orientalismo se expressa no filme principalmente pela imagem mitificada e idealizada que faz dos samurais, e este é ambientado na Era Meiji justamente por abordar o ocaso deste estamento social e a transição do Japão para a modernidade.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  3. Primeiramente, gostaria de parabenizar pela excelente apresentação acerca de um filme que de fato é muito conhecido em um contexto ocidental. Pergunta: existe alguma razão para terem criado esses dois mitos acerca da conduta destes samurais? E por que eles ficaram tão famosos?

    Thais de Albuquerque Barbosa.

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    1. Obrigado pela leitura Thais.

      Estes dois mitos foram criados ainda na Era Meiji. O primeiro (bushido) surgiu nas décadas de 1880 e 1890, e atendeu a interesses políticos conservadores na criação de uma identidade nacional moderna diferenciada da ocidental. Por sua vez, o segundo mito surgiu pouco antes, ao que tudo indica popularmente e de forma espontânea, logo após a Revolta de Satsuma. A primeira grande obra de difusão do bushido foi o livro homônimo de Nitobe, e este serviu como a principal fonte para toda a representação auto-orientalista e orientalista dos samurais que se seguiu, inclusive na cultura de massas (romances, cinema, etc.). Já o segundo mito parece ter se difundido principalmente pela cultura de massas, sem base no livro de Nitobe.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  4. Ola! A mesa já aconteceu? Se sim, existe gravação? Grato.

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  5. Boa tarde! Parabéns pelo artigo.
    Há obras sobre os samurais que podem ser trabalhadas em sala de aula que não partam do orientalismo? Seria interessante trabalhar com os alunos as diferentes representações e a questão da alteridade, uma vez que, como o próprio artigo diz, muita coisa dá cultura foi romantizada.

    Ana Paula Sanvido Lara

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    1. Obrigado pela leitura Ana Paula. Um texto sobre os samurais, e que se esquiva bem de estereótipos, sendo também breve e acessível, é o capítulo sobre a Era Tokugawa (capítulo 3) no livro "História do Japão" de Kenneth Henshall.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  6. Boa noite,
    Primeiramente, lhe parabenizo pelo excelente artigo! Foi realmente bastante informativo, principalmente quanto a questão do "mito do samurai honrado" guiado pelo Bushidô. A análise do filme também foi sensacional, pessoalmente eu gosto bastante desse filme, é o filme preferido do meu pai, então já devo ter assistido mais de vinte vezes! Mas, nunca tinha atentado para tais articulações do "auto orientalismo" perpetuado pelo próprio Japão.
    Diante disso, lhe pergunto, como podemos estudar essa "auto propaganda" japonesa da figura "honrada" do samurai? Afinal, grandes escritores japoneses como Shusaku Endo perpetuam por meio de sua literatura esses mesmo estereótipos de honra absoluta. E como essa construção histórica afeta as relações do Japão com países vizinhos (essa pergunta é mais a título de reflexão)? Afinal, os coreano [Joseon] e a costa da China, sofreram por séculos com invasões de sumurais, terrivelmente danosas e violentas.
    Enfim, novamente lhe parabenizo!
    Tenha uma semana gloriosa
    Att: Krishna Luchetti

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    1. Obrigado pela leitura Krishna.

      As duas principais fontes para o entendimento dessa imagem idealizada dos samurais criada pelos japoneses são os livros "Bushido" de Inazo Nitobe, publicado ainda na Era Meiji, e "O Crisântemo e a Espada" de Ruth Benedict, publicado apenas um ano após o fim da Segunda Guerra Mundial. Os principais impactos provocados por tal mito na Ásia se deram a partir da Primeira Guerra Sino-Japonesa iniciada em 1894, e nas guerras subsequentes até a Segunda Guerra Mundial, quando os soldados japoneses incorporaram a auto-imagem de samurais modernos.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  7. Boa noite, professor.
    Primeiramente, gostaria de parabenizar pelo excelente texto e análise do filme.
    De acordo com Kurt Singer, parece existir a imagem
    normativa do homem superior, um "ideal tipo" necessário para construção de um ethos social, servindo de molde para constituição desta "comunidade imaginada", e no momento que o Japão fez sua mudança para o modelo conservador de modernização, a figura do samurai foi o modelo escolhido para cumprir essa função. Deste modo, lhe pergunto, qual foi o "ideal tipo" que os oligarcas adotaram na primeira modernização e quais foram os principais motivos para à adoção de uma modernização conservadora?

    Edvan Pereira Costa

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    1. Obrigado pela leitura Edvan.

      O ideal adotado no início da Era Meiji, antes da reação conservadora, não era japonês, foi o liberalismo anglo-saxônico, visto como um ideal de civilização (tendo Benjamin Franklin como um modelo de destaque), ao contrário da cultura japonesa da Era Tokugawa, que representaria o arcaísmo a ser superado. O principal motivo para a adoção desse modelo era a busca pelo reconhecimento do Japão como um Estado "civilizado", e que portanto poderia recuperar sua soberania, limitada por tratados desiguais com estados ocidentais, firmados nos anos finais do governo Tokugawa. Como o modelo liberal de modernização não conseguiu esse objetivo, os oligarcas do governo Meiji mudaram para o modelo conservador, e com ele conseguiram o fim dos tratados desiguais, conquistando o respeito ocidental pelas armas em 1894, por meio da Guerra Sino-Japonesa, o que os encorajou a continuarem com este modelo.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  8. Parabéns pelo texto! Gostaria de lhe perguntar sobre esse limite entre História e ficção e qual sua visão sobre a crítica dessa fonte entre os historiadores. No momento em que é desejável a ampliação de fontes para estudo da História e que é urgente desfazer estereótipos, como lidar com o cinema que parece carregar as duas problemáticas?

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    1. Obrigado pela leitura Alina.

      Acredito que para ambos os casos deve-se abordar o cinema como um veículo de "história pública" (um meio privilegiado pelo qual formas de conhecimento histórico chegam ao grande público), dando a este uma maior atenção com um ponto de vista crítico, justamente pelos estereótipos que constantemente carrega e dissemina. Para isso abordagens comparativas, entre o saber acadêmico e o conteúdo mostrado na tela, sempre serão úteis.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  9. Carla Cristina Barbosa
    Prezado Edelson, inicialmente parabenizo pelo texto e gostaria de uma sugestão de como podemos trabalhar o conceito de orientalismo e o filme “O ÚLTIMO SAMURAI" na Educação Básica.

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    1. Obrigado pela leitura Carla.

      Acredito que uma boa forma de trabalhar com o conceito de orientalismo deste filme na educação básica, é primeiramente com um estudo sobre os samurais históricos, seguido da exposição geral do conceito de orientalismo com o uso do filme como um estudo de caso para este conceito.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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  10. Boa noite, meu mais sincero parabéns, gostei bastante do seu texto. varias obras na era meiji fizeram sucesso e trouxeram olhares curiosos do publico como a exemplo a própria obra que serviu como fonte para a escrita de seu texto que é "o ultimo samurai" e outra que me lembro é um anime chamado "Samurai X" são duas obras que acho interessante mas que podemos perceber a insatisfação dos samurais pela mudança abrupta ocasionada por essa modernização ocidental, e assim segue mostrando varias problemáticas. dito isto gostaria de perguntar se na opinião do autor como essas obras que tanto nos interessa pode ser utilizada em sala, deveria ser passado trechos do filme e o professor utilizando esses trechos para exemplificar trazer o conhecimento de forma mais simples ou apenas fotos para exemplificar e indicar que assistam posteriormente essas obras ja que o filme tem mais de duas horas e sabemos que nem sempre temos tanto tempo disponível?

    Att,
    Daniel Henrique Oliveira de Alcântara

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    1. Obrigado pela leitura Daniel.

      Com a falta de tempo hábil, e a própria natureza da fonte (filme), acredito que o uso de trechos do filme seria a melhor opção, até porque o mero uso de imagens abriria possibilidade para uma abordagem ainda mais ampla deste conceito, em referência a um número maior de fontes (filmes, desenhos, games, quadrinhos, etc.), não sendo necessária a limitação a esta única fonte.

      Edelson Geraldo Gonçalves

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